O pedantismo de Anielle
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, é aquele tipo de pedante que acredita iluminar o entendimento da gente comum ao importar para a política o jargão das ciências sociais. Sua mais recente contribuição é...
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, é aquele tipo de pedante que acredita iluminar o entendimento da gente comum ao importar para a política o jargão das ciências sociais. Sua mais recente contribuição é “racismo ambiental”, que ela utilizou no fim de semana para falar das enchentes no Rio de Janeiro.
Não vou entrar no mérito do conceito. Não vou investigar as profundezas da ideia de “racismo ambiental” – ou, muito mais provavelmente, as imposturas que ela contém. Vou falar apenas desse hábito pernóstico de enfeitar o discurso com expressões tiradas de textos teóricos quase sempre escritos numa outra língua. Vou recorrer, haha, a um trabalho das ciências sociais.
Não é para mim
Um grupo de pesquisadores da Ohio State University procurou medir, em uma série de mais de 20 estudos, justamente o efeito do palavrório acadêmico na comunicação com leigos. O resultado foi que o uso do jargão afasta as pessoas, faz com que elas sintam que aquela conversa não é para elas. E pouco importa se o autor ou orador se dá ao trabalho de traduzir o significado das palavras misteriosas: o estrago já está feito.
Nada disso é surpreendente. Sabemos há tempos que o juridiquês, por exemplo, é uma das armas do Judiciário para impressionar os nativos. Mas a repetição dos testes com temas da ciência e da política e vários grupos de adultos dá solidez à conclusão. “Conseguimos engajar os cidadãos em questões políticas e científicas complexas se nos comunicarmos em linguagem que eles entendem”, diz uma das autoras dos estudos. Duh.
Os problemas do ativismo
Depois da sua primeira postagem sobre “racismo ambiental”, Anielle Franco fez uma segunda, para explicar o sentido da expressão e informar seus seguidores que a ideia vem sendo empregada desde a década de 1980 por ativistas da causa negra. É precisamente o tipo de postagem que faz mais sucesso no mundinho fechado do ativismo, uma vez que o jargão tem a mesma função de um crachá (“Essa é das nossas!”), do que no mundão das pessoas realmente afligidas por enchentes.
Políticas como Anielle, que saem da academia ou de um “coletivo” diretamente para um ministério, parecem incorrer num erro de categoria: acham que o seu papel no novo posto é “despertar a consciência do povo” em vez de encontrar solução para problemas concretos. E dá-lhe discurso sobre “decolonialidade” e “racismo ambiental”.
Há duas hipóteses ainda piores. Talvez a ativista não queira mesmo resolver problemas, só queira continuar falando. Ativismo é uma carreira que requer plateias. Ou pode ser que ela simplesmente não saiba como resolver as dificuldades de quem espera algo de seu ministério. Lidar com problemas reais é mais difícil do que falar difícil.
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