Toffolli x Moro: o resgate do elo perdido das CPIs do Mensalão e do PC Farias
No primeiro momento em que ouvi o nome Tony Garcia, soou familiar mas pensei que tivesse confundido com algum artista...
No primeiro momento em que ouvi o nome Tony Garcia, soou familiar mas pensei que tivesse confundido com algum artista ou influencer. Hoje há muitos desses que a gente não sabe direito quem sejam mas são sucesso absoluto em suas próprias bolhas. No caso, ele era sucesso na minha bolha, a política. Mas um sucesso retrô, que entra em cena na CPI do PC Farias, em 1992.
O Antagonista teve hoje acesso à acusação que levou o ministro Dias Toffoli, do STF, a abrir um inquérito contra o senador Sergio Moro. Tony Garcia acusa o ex-juiz de ter instruído a gravar clandestinamente autoridades do Judiciário e do Tribunal de Contas.
O processo é de 2004 e se refere ao caso Banestado. Tony Garcia era o administrador do Consórcio Garibaldi, criado em 1991 e já apontado pelo Banco Central como problemático no ano seguinte. Em 1994 o Bacen interrompeu as operações para tentar iniciar o processo de ressarcir as mais de 3,7 mil vítimas.
O processo judicial só foi aberto em 2001. A pena de Tony Garcia foi substituída por 6 meses de serviço comunitário desde que ressarcisse os credores e colaborasse com a Justiça. É justamente nessa colaboração que agora o STF vê interferência indevida de Sergio Moro, orientando gravações ilegais.
Em julho de 1992, quando foi convocado a depor na CPI do PC Farias, Tony Garcia ganhou sua primeira manchete nacional entregando à imprensa gravações que fez escondido. O deputado José Felinto pedia a ele dinheiro para aliviar a barra na CPI. Dizia ter intimidade com figuras como José Dirceu, Aloisio Mercadante, Eduardo Suplicy e Moroni Torgan. As gravações comprometeram o futuro político do parlamentar, imediatamente expulso do próprio partido.
Tony Garcia e o advogado Roberto Bertholdo foram estrelas da CPI do Banestado e, tempos depois, o último foi acusado de ser um dos principais operadores financeiros do centrão. Era apontado como o responsável por distribuir o Mensalão aos deputados do PMDB. Conforme mostra o processo do caso no STJ, também aí houve uma questão envolvendo escutas ilegais feitas por Tony Garcia.
O ex-deputado estadual do Paraná chegou a ser candidato ao Senado em 2002. Seu primeiro suplente era Emerson Palmieri, condenado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva no Mensalão. O segundo suplente era o ex-deputado José Janene, um dos pivôs do mensalão.
O advogado Roberto Bertholdo dizia na época que José Janene estava por trás do grampo ilegal feito no então juiz Sergio Moro entre dezembro de 2003 e maio de 2004. O depoimento foi dado à Polícia Federal, que o prendeu ao tentar ir para o Paraguai.
Coincidentemente, no dia seguinte, ele e Tony Garcia estavam convocados para depor na Comissão de Relações Exteriores da Câmara sobre as operações que conduziam em Itaipu. Sim, eles foram nomeados a altos cargos na estatal binacional durante o primeiro governo Lula.
É espantoso que essa figura seja tratada agora como um verdadeiro herói por tantos veículos jornalísticos lulistas. Mas a memória não é o forte do brasileiro, os políticos contam com isso.
Quanto ao caso de agora, é mais um que politiza o Judiciário. Fica parecendo perseguição a Sergio Moro e tentativa de, depois de recontar a história do Petrolão, começar a recontar a do Mensalão também.
Se as coisas forem vistas assim pelo povo, é ruim demais para a nossa democracia. Democracias sobrevivem a políticos ruins, mas não resistem a juízes que não têm a confiança do povo.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)