8 de janeiro: tudo para o PT é golpe?
O impeachment de Dilma foi o golpe de 2016. A prisão de Lula foi golpe. Até outro dia, os tucanos eram golpistas...
O impeachment de Dilma foi o golpe de 2016. A prisão de Lula foi golpe. Até outro dia, os tucanos eram golpistas. Fica parecendo que tudo para o PT é golpe, a não ser que o PT esteja no poder. Esse clima contamina as discussões sobre 8 de janeiro.
Virou um assunto altamente tóxico. Do lado petista, era um golpe de Estado. Quem desafiar essa ideia é automaticamente golpista. Ou, pior ainda, bolsonarista. Essa palavra define a pessoa contra quem tudo é permitido.
Aldo Rebelo, que foi ministro de Lula, resolveu abrir a discussão em uma entrevista ao Poder 360. “Faz bem à polarização atribuir ao antigo governo a tentativa de dar um golpe. Criou-se uma fantasia para legitimar esse sentimento que tem norteado a política nos últimos anos. É óbvio que aquela baderna foi um ato irresponsável e precisa de punição exemplar para os envolvidos. Mas atribuir uma tentativa de golpe a aquele bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do golpe de Estado.”, disse.
É necessário separar os fatos. Diversos políticos e militares já disseram que houve sim conversa sobre a possibilidade de um golpe de Estado. Outra coisa é dizer que esse golpe é a ação dos baderneiros que depredaram os prédios dos Três Poderes.
Eles queriam um golpe? Sim, estavam nos quartéis pedindo exatamente isso. Mas a ação deles não foi o golpe, foi a revolta quando descobriram que o Exército não daria golpe nenhum.
Ficaram naquela história de “mais 72 horas” esperando que algo acontecesse. E nada aconteceu. Não tinham um plano para tomar nada, só para destruir. Têm de ser punidos por isso.
O movimento não era orgânico, era organizado. Havia financiamento e cabeças. Esses, no entanto, não foram até agora, um ano depois, sequer nomeados pelas autoridades encarregadas das investigações. As punições até o momento são daqueles instrumentalizados nesses devaneios.
Há uma narrativa que se cria a partir da confusão entre as ideias de golpe rechaçadas pelo Exército com a ação de quem se revoltou com a ausência de um golpe. Lula seria o salvador da democracia e, portanto, quem o critica é golpista.
Essa dinâmica impede o surgimento de algo vital para a democracia, uma oposição democrática ao governo. Valorizar o surgimento dessa oposição e unificar o país é urgente e fundamental para a normalidade democrática.
Isso depende, no entanto, de que Lula desça do palanque e passe a governar. Não parece que acontecerá tão cedo. Tem sido muito frutífera a narrativa de que enfrentou um Golpe de Estado e é a única saída para a democracia.
O raciocínio é um contra-senso. Só há democracia com a real possibilidade de alternância do poder. Se qualquer tentativa disso for chamada de golpismo, a democracia se torna inviável.
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