Jerônimo Teixeira na Crusoé: Os representantes da representatividade
Representatividade está na ordem do dia, do ano, da década. Empresas privadas, governo, imprensa, indústria do entretenimento – todos dizem se importar com a gêmea...
Representatividade está na ordem do dia, do ano, da década. Empresas privadas, governo, imprensa, indústria do entretenimento – todos dizem se importar com a gêmea dizigótica da diversidade. Enquanto sua irmã tem uma personalidade mais sociável – um bar, clube ou local de trabalho diversificado é aquele que reúne variadas etnias, culturas e orientações sexuais –, a representatividade é mais individualista e exibida: em geral, depende da visibilidade de algumas pessoas pertencentes a minorias.
Embora seja uma das tantas noções dogmáticas da política identitária, a representatividade não deve ser descartada ou desdenhada. Para ficar em um exemplo fácil, é significativo para crianças e jovens negros que o cinema hoje ofereça mais heróis e super-heróis negros. Fora do universo Disney, porém, espera-se que membros de minorias apresentem currículos substantivos antes de serem alçados a posições totêmicas. Digo isso pensando no fiasco de Claudine Gay, primeira reitora negra de Harvard, que vem sendo denunciada por plágio em seu trabalho acadêmico. Ainda que todas as acusações sejam desmentidas, o escândalo jogou luz sobre o fato de que ela publicou apenas onze artigos acadêmicos – e nenhum livro. Não se concebe que alguém possa comandar uma das universidades mais prestigiosas do mundo com uma produção tão pífia.
No Brasil, a representatividade é aquele princípio que a esquerda valoriza muito, mas só quando o governo cai nas mãos da direita. É o que nos ensinam as indicações de Lula ao altos cargos do Judiciário. Parece que agora Flávio Dino é negro, embora já tenha se declarado branco (e anos depois pardo) à Justiça Eleitoral. Não sendo uma figura mítica como Tirésias ou ficcional como o Orlando de Virginia Woolf, é improvável que o primeiro-ministro comunista do Supremo Tribunal Federal (STF) um dia se converta em mulher. Seu substituto no Ministério da Justiça, ao que tudo indica, tampouco será…
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