França é contra gênero neutro porque é elitista e sabota a inclusão França é contra gênero neutro porque é elitista e sabota a inclusão
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França é contra gênero neutro porque é elitista e sabota a inclusão

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Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 03.11.2023 17:28 comentários
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França é contra gênero neutro porque é elitista e sabota a inclusão

A França aprovou no Senado um projeto que veta o uso de gênero neutro em documentos oficiais. A margem foi larga, 221 a 81. Emmanuel Macron, o presidente da França, se declarou favorável...

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França é contra gênero neutro porque é elitista e sabota a inclusão
Arte: O Antagonista

A França aprovou no Senado um projeto que veta o uso de gênero neutro em documentos oficiais. A margem foi larga, 221 a 81. Emmanuel Macron, o presidente da França, se declarou favorável à medida. Não se trata de uma batalha de esquerda contra direita, mas de adultos contra a infantilização do pensamento político.

Aqui no Brasil, infelizmente, parte da imprensa noticiou o fato falando de gênero neutro como “linguagem inclusiva”. É um erro fático ou uma fake news, não sei. O problema na França foi justamente o de provocar exclusão porque a tentativa de implementação é elitista e autoritária. Além disso, não há qualquer indício de que mudar gênero de palavras inclua alguém.

Essa ideia é muito frequente numa elite preguiçosa e arrogante. A pessoa se julga tão especial que, se ela mudar a forma como fala uma palavra, vai realmente resolver um problema de inclusão. É uma espécie de pensamento mágico daqueles que não estão dispostos a resolver problema nenhum.

Os mais delirantes argumentam que as pessoas ficam contra a linguagem neutra porque é a forma que se usa para reconhecer a existência de pessoas não binárias. Para eles, o reconhecimento público disso causa raiva nos reacionários. Até pode ser, mas precisa ser muito autorreferente e descolado da realidade para afirmar que, ao mudar o gênero de uma palavra, está reconhecendo a existência de alguém.

Não vejo problema, no entanto, que esse grupo use o gênero neutro em seu meio, afinal as seitas geralmente têm seu dialeto. O problema é querer empurrar goela abaixo de toda a sociedade, julgando moralmente e perseguindo quem não quiser usar a novilíngua.

Na França não se proibiu o uso da linguagem neutra em geral, apenas nos documentos oficiais. A lei votada no Senado, que ainda precisa passar pela Câmara, invalida o documento que usar gênero neutro.

Aqui no Brasil, a discussão tende a ser apenas ideológica e liderada pela quinta série C do progressismo. Na França, existe uma instituição desde o século 17 dedicada a preservar o idioma, a Académie Française.

Esse projeto de lei começa lá atrás, em 2021, quando se pretendia introduzir no currículo escolar a linguagem neutra. Havia livros publicados por particulares trazendo uma suposta nova regra.

Um comunicado conjunto da Académie Française com o Ministério da Educação enterrou essa possibilidade. O problema é que, apesar de se chamar inclusiva, é um tipo de linguagem excludente e que, pior que isso, sabota os esforços de inclusão.

“Num momento em que a luta contra a discriminação sexista envolve combates relacionados em particular à violência doméstica, disparidades salariais e os fenômenos do assédio, a escrita inclusiva, se parece fazer parte deste movimento, não é apenas contraproducente para este movimento, mas prejudicial à prática e inteligibilidade da língua francesa”, diz o comunicado.

Ele também complementa a questão da mudança natural do idioma, reivindicada pelos defensores do gênero neutro na teoria, mas desprezada na prática: “Ao defender uma reforma imediata e abrangente da grafia, os promotores da escrita inclusiva violam os ritmos do desenvolvimento da linguagem de acordo com uma injunção brutal, arbitrária e descoordenada, que ignora a ecologia do verbo”.

Subestimar movimentos de guerra cultural como esse é um erro. Simplesmente tachar as pessoas de burras, ridículas ou lacradoras tem feito esse tipo de movimento ganhar cada vez mais espaço e mais poder.

Ao evocar a intenção virtuosa e nobre, mas atuar de forma arbitrária, pequenos grupos ganham um espaço gigantesco na nossa sociedade, nas empresas e na política. A última fronteira é tornar tudo isso política de Estado. Quando isso ocorre, ninguém mais tem como se opor.

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