O destino do deputado André Janones faz cair as máscaras dos falsos defensores da liberdade de expressão, incluindo ele próprio.
A Procuradoria-Geral da República indicada por Lula se pronunciou a favor de que o STF aceite uma queixa-crime contra o parlamentar apresentada pelo ex-presidente Bolsonaro. O motivo? Tuítes.
São vários nos meses de março e abril do ano passado. Um exemplo: “URGENTE! Bolsonaro acaba de deixar a sede da PF! O assassino da pandemia pensou que ia estar lotado de gado lhe esperando mas se ferrou: não tinha nenhum apoiador e ele saiu de escorraçado aos gritos de “genocida”, “miliciano” e “ladrão de joias”. Foi pra isso que eu fiz o L 😂”.
É baixaria? Sem dúvida. Leve agora em conta o nível do debate político nacional e até as atuações anteriores do próprio Janones. Também não há dúvidas de que não é a mais grave.
Bolsonaristas fazem postagens semelhantes sobre outras pessoas todos os dias e defendem que isso é liberdade de expressão. O próprio Jair Bolsonaro está convocando uma passeata para defender a liberdade de expressão em Copacabana.
André Janones também defendia que esse comportamento é liberdade de expressão. No Narrativas Antagonista de hoje há o vídeo em que o deputado diz que continuaria chamando o colega Nikolas Ferreira de chupetinha porque isso seria liberdade de expressão. Alega que a direita faz, então ele também poderia.
No episódio específico, ele fica gritando xingamentos para impedir o pronunciamento do colega. Está usando a expressão “liberdade de expressão” para fazer exatamente o oposto, impedir alguém de se expressar.
O mesmo vale para os bolsonaristas. Dizem defender “liberdade de expressão” mas estão defendendo outra conduta. Querem ficar inimputáveis quando tentam coibir a liberdade de expressão de outras pessoas por meio de ataques organizados, difamação, xingamentos e constrangimento.
Na realidade, ambos defendem a mesma coisa. Querem que os seus possam se organizar em linchamentos virtuais para tentar impedir a liberdade de expressão de quem os critica. E também querem que eles sejam inimputáveis quando fazem isso.
Enfrentamos problemas reais de liberdade de expressão, uma série de injustiças e decisões judiciais até de censura. Isso não é correto e precisa ser denunciado. Existe, no entanto, uma diferença abissal entre reconhecer que alguém foi injustiçado e alçar esta pessoa, de forma indevida, a defensora da liberdade de expressão.
No caso de Janones há ainda um outro detalhe, o da imunidade parlamentar. Inquestionável há alguns anos, passou a ser flexível a partir do momento em que sobe a temperatura política. A PGR de Lula argumenta que os pronunciamentos de Janones estão fora da esfera do debate político e foram feitos exclusivamente para atingir a pessoa de Jair Bolsonaro.
Parafraseando novamente o Danilo Gentili, o problema para esse pessoal claramente não é o que se fala, é quem fala. No caso específico, Janones foi jogado aos leões pelo PT.
O deputado, que teria uma candidatura à presidência, desistiu para se aliar a Lula e inaugurar o Janonismo, uma guerrilha virtual difamatória e de baixo nível à semelhança do que faz o bolsonarismo. Este, por sua vez, sucede os MAVs, Militantes em Ambientes Virtuais treinados pelo PT desde 2010.
André Janones, antes do lulismo, lamentava este cenário e propunha uma alternativa à política rasteira da perseguição e xingamento. Em nome de Lula, abriu mão dos princípios que dizia defender e se tornou um dos parlamentares mais agressivos.
Janones não ganhou um cargo importante no governo, como se cogitava quando abriu mão da própria candidatura. Ele vira alvo de uma denúncia crime por tuítes na mesma semana em que Glauber Braga sai distribuindo chutes e bordoadas na Câmara, depois ainda defende a aniquilação de liberais.
Parece que, apesar de todos os esforços, o deputado foi usado e jogado fora. Dá a impressão de que jamais foi reconhecido como lulista legítimo e, por isso, pode ser jogado aos leões do bolsonarismo. Não foi por falta de aviso.