O climatologista Carlos Nobre, co-presidente do Painel Científico para a Amazônia (SPA), disse que o governo Bolsonaro deu ‘sinal verde’ para o crime ambiental.
“Infelizmente, a mensagem que esse governo transmitiu para esses desmatadores, degradadores, é um sinal verde, ‘vão em frente'”, disse Nobre, em entrevista a O Antagonista.
“O crime ambiental se sentiu muito empoderado nos últimos anos. E portanto o desmatamento, a degradação e o fogo cresceram muito. E é muito difícil prever que em 2022, principalmente por ser um ano eleitoral, vai haver uma enorme redução do desmatamento”, acrescentou.
Nobre lembrou da ideia de Bolsonaro, ainda antes da posse, de extinguir o Ministério do Meio Ambiente; e da frase de Ricardo Salles, em abril de 2020, sobre “ir passando a boiada”. Também destacou a decisão de proibir a destruição de equipamentos apreendidos pelo Ibama na floresta.
“Foi o sinal verde para o crime ambiental. Portanto, explodiu o desmatamento, explodiu a grilagem de terra – isso já vem acontecendo há décadas, mas agora, nos últimos anos, aumentou muito, aumentou demais o garimpo ilegal (…) um pouco antes da época da COP, o presidente visita uma terra indígena em Roraima”, acrescentou Nobre.
A visita de Bolsonaro a uma região de garimpo ilegal na Terra Indígena Raposa Serra do Sol foi em 26 de outubro.
No mês passado, o SPA, formado por mais de 200 cientistas, apresentou seu relatório em Glasgow, na Escócia, durante a COP26. O estudo mostrou que “a Amazônia está se aproximando de um potencial e catastrófico ponto de inflexão” por causa do desmatamento, degradação, incêndios florestais e mudanças climáticas.
A destruição ambiental criou um ciclo vicioso que deixa a Amazônia cada vez mais seca; quanto mais seca, mais vulnerável ela fica a novas queimadas, e assim por diante.
Carlos Nobre, hoje pesquisador do Institudo de Estudos Avançados da USP, é doutor em meteorologia pelo MIT, e foi pesquisador do Inpe de 1983 a 2012. Participou de vários relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU.
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