CRÔNICA ANTAGONISTA: O lulismo de Aécio Neves
No primeiro dia após retomar o mandato parlamentar, o senador Aécio Neves começou o discurso – em que se fez de vítima de uma “ardilosa armação” – apelando ao voto popular que o elegeu...
No primeiro dia após retomar o mandato parlamentar, o senador Aécio Neves começou o discurso – em que se fez de vítima de uma “ardilosa armação” – apelando ao voto popular que o elegeu.
AÉCIO, 2017: “Eu reassumo hoje, senhor presidente, meu mandato nesta Casa, mandato que me foi conferido pela vontade de mais de 7 milhões de mineiros.”
O próprio Aécio, no entanto (como mostrei na semana passada), havia rebatido em 29 de agosto de 2016, no processo de impeachment de Dilma Rousseff, esta artimanha de recorrer aos votos recebidos como um salvo-conduto.
AÉCIO, 2016: “Por outro lado, vejo que Vossa Excelência recorre aos votos que recebeu como justificativa. O voto, sabemos todos, senhora presidente, não é salvo-conduto. É uma delegação que pressupõe deveres e direitos. O maior dos deveres de quem recebe votos é o respeito a leis e à Constituição.”
Pois é. Hoje acusado de desrespeitar as leis e a Constituição, Aécio, em sua volta ao Senado, ainda insistiu em dizer que honrou o seu mandato.
AÉCIO, 2017: “…mandato que continuarei a honrar, como sempre honrei todos que recebi ao longo de 31 anos consecutivos de mandatos eletivos e quase 40 anos de vida pública.”
Mas como Aécio pode ter honrado o seu mandato se foi flagrado pedindo 2 milhões de reais ao empresário então investigado Joesley Batista e usou intermediários para receber o pagamento em parcelas de 500 mil, sem qualquer contrato?
Como disse o ministro do STF Luis Roberto Barroso: “No mundo dos atos lícitos, quem toma um empréstimo de 2 milhões de reais deixa documentado em um contrato.”
Como Aécio pode ter honrado o seu mandato se ainda se documentou o transporte desses recursos mediante mochilas e malas com os intermediários previamente contatados?
BARROSO: “No mundo dos atos lícitos, pagamentos desses valores – quatro pagamentos de 500 mil reais – são feitos mediante cheque ou mediante transferência bancária. No mundo em que nós vivemos, ninguém circula por aí, indo de São Paulo para Minas pela estrada, levando partidas de 500 mil reais.”
Como Aécio pode ter honrado o seu mandato se foi flagrado em gravação cogitando, ainda que em tom de ironia, matar o próprio intermediário?
BARROSO: “Ao indicar a pessoa que iria apanhar o dinheiro, o senador dizia claramente: ‘Tem que ser um que a gente mate antes de fazer delação.’ E, consequentemente, quem está temendo delação, é porque evidentemente não está fazendo alguma coisa correta.”
Como Aécio pode ter honrado o seu mandato se ainda fez menção a uma contrapartida pela vantagem obtida?
BARROSO: “E, por fim, em agradecimento, pela vantagem obtida, se faz menção à indicação de um amigo do benfeitor, de um indicado do benfeitor, para um cargo na antiga Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale S.A.”
Isto sem falar na operação de mascaramento dos recursos e na menção à nomeação de um delegado amigo para interferir nos inquéritos da Lava Jato.
O senador Aécio Neves não honrou mandato coisa nenhuma.
E para piorar, igualou-se a Lula em vitimismo.
AÉCIO, 2017: “Fui, sim, alvo, senhor presidente, dos mais vis e graves ataques nos últimos dias.”
Oh, Aécio, que dó!
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