Quem é Ernesto Araújo?
Ernesto Araújo foi ministro das Relações Exteriores do Brasil entre janeiro de 2019 e março de 2021. Ele se demitiu a pedido do presidente Jair Bolsonaro...
Ernesto Araújo foi ministro das Relações Exteriores do Brasil entre janeiro de 2019 e março de 2021. Ele se demitiu a pedido do presidente Jair Bolsonaro depois dos ataques que fez à senadora Katia Abreu. Ele vinha sendo pressionado com mais intensidade depois que o assessor da Presidência Filipe Martins fez um gesto supremacista no Senado, enquanto Ernesto era bombardeado pelos senadores, que exigiam a sua saída do Itamaraty por vê-lo como um obstáculo à obtenção de vacinas contra a Covid, no mercado internacional, por causa dos atritos que criou com a China, principalmente.
O ministro nasceu em 1967, em Porto Alegre, filho do ex-procurador-geral da República Henrique Fonseca Araújo. Ernesto atuou como diplomata até 2018, tendo representado o Brasil em países como Alemanha, Canadá e Estados Unidos. Ernesto nunca comandou uma embaixada.
No governo, Araújo se destacou pelas polêmicas. Ele é devoto de Olavo de Carvalho e pertenceu à chamada “ala ideológica” do governo Bolsonaro. O ministro criou crises diplomáticas com a China, fez ataques ao presidente americano, Joe Biden, e a países árabes.
Ele é crítico do que chama de “globalismo”, uma “ideologia anticristã, dominada por uma teoria da conspiração conhecida como marxismo cultural”. Araújo também se opõe à pauta climática e defende que não há relação clara entre aquecimento global e o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera.
Em meio à pandemia de Covid-19, Araújo se posicionou contra o isolamento social e as medidas restritivas. Ele já comparou o lockdown a campos de concentração nazistas.
Carreira como diplomata
Ernesto Araújo se formou em Letras pela Universidade de Brasília em 1988. Em 1990, foi aprovado no Instituto Rio Branco e, no ano seguinte, ingressou na carreira diplomática, passando a atuar na divisão do Mercosul.
Em 1995, Araújo se tornou secretário da Missão do Brasil junto à União Europeia em Bruxelas e, em 1999, foi transferido para Berlim, para atuar no setor econômico da Embaixada do Brasil na Alemanha.
Em 2003, Ernesto foi nomeado para o comando da área de Serviços, Investimentos e Assuntos Financeiros do Mercosul no Ministério das Relações Exteriores. Em 2005, passou para o comando da área de Negociações Extra-Regionais do Mercosul na pasta.
Entre 2007 e 2010, o diplomata atuou como vice-chefe de Missão nas Embaixadas do Brasil no Canadá e nos Estados Unidos.
Araújo retornou a Brasília em 2015 para trabalhar como subchefe de gabinete do Itamaraty. Em outubro de 2016, assumiu a direção do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos.
Em junho de 2018, foi promovido a Ministro de Primeira Classe – posto que, no Brasil, por cortesia, é usualmente chamado “embaixador“, mesmo que o diplomata em questão jamais tenha chefiado uma embaixada, como é o caso de Araújo.
Pouco tempo depois, foi convidado para integrar o governo Bolsonaro.
Indicação ao governo Jair Bolsonaro
Em dezembro de 2017, Ernesto Araújo publicou um artigo intitulado “Trump e o Ocidente”, em que analisou dois discursos de Donald Trump. No texto, o diplomata traçou um panorama sobre o que entendia ser a essência da política externa do presidente americano.
O artigo despertou a atenção do filósofo Olavo de Carvalho, que recomendou a leitura a seus seguidores e fez uma série de elogios a Araújo.
Filipe Martins, então secretário de assuntos internacionais do PSL e apoiador de Olavo, e Eduardo Bolsonaro viriam a defender a indicação de Ernesto para o governo, a partir das recomendações do filósofo.
O diplomata foi convidado para ser o ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro no dia 14 de novembro de 2018.
Após a posse do chanceler, Olavo disse que o discurso do discípulo tinha, “desde já, um lugar garantido em qualquer antologia séria dos grandes discursos brasileiros”.
Em artigo na revista The New Criterion, Araújo diz que Olavo “talvez tenha sido a primeira pessoa no mundo a ver o globalismo como um resultado da globalização, a entender seus propósitos horríveis e a começar a pensar sobre como derrubá-lo”.
Atuação como Ministro das Relações Exteriores e Polêmicas
Nos dois anos em que comandou o Itamaraty, Ernesto Araújo esteve à frente de uma guinada ideológica na política internacional brasileira. O ministro se envolveu em crises envolvendo alguns dos principais parceiros comerciais do país, como Estados Unidos, China e Índia.
Desde o início do governo Bolsonaro, o Brasil deixou de lado sua postura de neutralidade em relação à política interna americana, apoiando devotamente o então presidente do país Donald Trump. O comportamento não rendeu grandes vantagens comerciais ao Brasil.
Durante a campanha eleitoral americana em 2020, Araújo e o governo brasileiro fizeram uma série de ataques ao candidato Joe Biden e declararam apoio a Trump. Com a vitória do democrata, o Jair Bolsonaro, aconselhado por Ernesto, foi um dos últimos países do mundo a parabenizar Biden e reconhecer sua vitória. O governo brasileiro defendeu a tese de que a eleição havia sido fraudada.
O chanceler Ernesto Araújo foi barrado do encontro inicial entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca, enquanto o deputado Eduardo Bolsonaro foi convidado a participar. Foi a primeira vez que, no início do encontro entre líderes do Brasil e dos Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores foi excluído.
No mesmo ano, durante uma cerimônia no Instituto Rio Branco, Araújo comparou Jair Bolsonaro a Jesus Cristo.
Araújo costuma fazer diversas críticas ao embaixador da China no Brasil, Yan Wanming, inclusive pediu que ele fosse substituído antes de negociar a implementação da tecnologia 5G no país. O governo chinês ignorou os pedidos.
O início do acirramento da crise com os chineses foi um tuíte de Eduardo Bolsonaro acusando a China de promover espionagem por meio do 5G. A Embaixada da China reagiu ameaçando dificultar as relações comerciais com o Brasil. Ernesto Araújo então respondeu cobrando uma retratação da China, que não ocorreu.
A postura do Brasil diante da China atrapalhou a obtenção de insumos para a produção de vacinas.
Em março de 2021, quando o assessor da Presidência Filipe Martins fez um gesto supremacista no Senado, durante uma audiência com o chanceler, aumentou ainda mais a pressão pela saída de Ernesto. O então ministro acusou a senadora Katia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores, de prometer que ele seria “o rei do Senado” se fizesse um gesto de aceitação em relação ao 5G chinês.
A acusação gerou duras reações de parlamentares e, no dia 29 de março, Ernesto foi obrigado a se demitir do cargo.
Histórico
1967 – Ernesto Araújo nasce em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
1988 – Ernesto conclui a faculdade de Letras na Universidade de Brasília (UnB)
1990 – Araújo é aprovado no Instituto Rio Branco.
1991 – Ernesto ingressa na carreira diplomática e atua como assessor na divisão do Mercosul.
1995 – O diplomata passa a integrar, como secretário, a Missão do Brasil junto à União Europeia em Bruxelas.
1999 – Araújo é transferido para Berlim para trabalhar como responsável pelo setor econômico da Embaixada do Brasil na Alemanha.
2003 – Ernesto passa a comandar as áreas de Serviços, Investimentos e Assuntos Financeiros do Mercosul no Ministério das Relações Exteriores.
2005 – O diplomata é transferido para o comando da área de Negociações Extra-Regionais do Mercosul no Ministério das Relações Exteriores.
2007 – Araújo atua como ministro-conselheiro em Ottawa, no Canadá.
2010 – Ernesto atua como ministro-conselheiro em Washington, nos Estados Unidos.
2015 – O diplomata volta a Brasília como subchefe de gabinete do Itamaraty.
2016 – Araújo assume a direção do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos.
Donald Trump é eleito presidente dos Estados Unidos.
2017 – O diplomata escreve um artigo intitulado “Trump e o Ocidente”, em que defende a visão de política externa do Republicano. O texto é elogiado por Olavo de Carvalho e recomendou a leitura.
A recomendação chega a Filipe Martins, então secretário de assuntos internacionais do PSL, e ao filho do presidente Eduardo Bolsonaro. Eles foram padrinhos da ida de Araújo para o governo.
2018 – Ernesto é promovido a ministro de Primeira Classe. O posto é chamado usualmente de “embaixador”, ainda que o diplomata jamais tenha chefiado uma embaixada.
Jair Bolsonaro é eleito presidente e convida Araújo para comandar o Ministério das Relações Exteriores.
2019 – O diplomata assume como ministro.
Ernesto Araújo compara Jair Bolsonaro a Jesus Cristo.
2020 – Araújo endossa tuíte de Eduardo Bolsonaro que acusou a China de promover espionagem por meio do 5G.
2021 – A postura do governo Brasileiro diante da China e da Índia dificulta a importação de vacinas e insumos.
Assessor da presidência Filipe Martins faz gesto supremacista durante transmissão ao vivo no Senado e cresce pressão por saída de Ernesto. O Centrão que a cabeça do diplomata.
Ernesto acusa Katia Abreu de prometer proteção a ele no Senado em troca da aceitação do 5G chinês. Os parlamentares reagem, aumentando a pressão, e Jair Bolsonaro obriga que o ministro se demita.
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