O esquecível e o inesquecível em 2018
Cada pré-candidato à presidência da República em 2018 precisa fazer boa parte do eleitorado ignorar algum aspecto negativo de sua trajetória, guardadas as diferenças de gravidade em cada caso. O condenado Lula precisa fazer o povo ignorar que foi no governo do PT que ocorreu – para usar a palavra do delator Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras – a “institucionalização” do maior esquema de corrupção da história do mundo, do qual o próprio Lula se beneficiou, segundo Sérgio Moro, com o triplex no Guarujá...
Cada pré-candidato à presidência da República em 2018 precisa fazer boa parte do eleitorado ignorar algum aspecto negativo de sua trajetória, guardadas as diferenças de gravidade em cada caso.
O condenado Lula precisa fazer o povo ignorar que foi no governo do PT que ocorreu – para usar a palavra do delator Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras – a “institucionalização” do maior esquema de corrupção da história do mundo, do qual o próprio Lula se beneficiou, segundo Sérgio Moro, com o triplex no Guarujá.
Para isso, o petista continua se fazendo de perseguido pela Lava Jato, como aconteceu no domingo, quando, baseado em matéria da Folha sobre a suposta pressão para que a empreiteira Andrade Gutierrez entregue seu filho Lulinha, acusou a operação de condicionar acordos de delação premiada à confirmação de narrativas mentirosas sobre ele e seus familiares – embora a Lava Jato, claro, só queira saber a verdade.
Geraldo Alckmin, que confirmou na noite de segunda-feira ser seu dever aceitar a tarefa de unir o PSDB como presidente do partido, aposta que a população brasileira votará apenas no candidato, não na legenda atualmente rejeitada pela maioria dos brasileiros, como mostraram pesquisas recentes.
O governador precisa, então, pela suposta força de sua personalidade, pelo suposto apelo de sua experiência administrativa, fazer o povo ignorar que ele é do PSDB, do investigado e também rejeitado Aécio Neves, mesmo ocupando, ao que tudo indica, a presidência do partido durante a campanha de 2018.
Isto sem contar que a PGR Raquel Dodge pediu abertura de inquérito para investigar Alckmin, acusado pelo Ministério Público Federal de ter recebido, por meio de um cunhado, recursos de caixa dois da Odebrecht nas campanhas de 2010 e 2014.
Já o prefeito João Doria, que deu um recuo tático em seu projeto presidencial, mas que voltou a se tornar opção para outros partidos após a desistência de Luciano Huck (ou, remotamente, até para o PSDB, caso Alckmin vire réu), teria de fazer o povo esquecer que se aproximou dos investigados Michel Temer e Aécio Neves, motivos que contribuíram para sua queda nas pesquisas.
Assim como Rodrigo Maia e Henrique Meirelles, que andam articulando uma chapa conjunta pelo PMDB ou com apoio do partido, Doria, se viesse a ser o escolhido por uma eventual coligação de centro, teria de fazer o povo ignorar a aliança com o presidente atualmente impopular e outros peemedebistas que também cobrarão cargos com foro privilegiado para escaparem da primeira instância a partir de 2019 (sendo que o mesmo valeria para Alckmin, caso ele venha a aceitar as condições do PMDB para apoiá-lo).
Marina Silva, que disse que em breve estará “colocando” qual será a forma da sua participação eleitoral – assim mesmo, no gerúndio, à moda dos atendentes de telemarketing – precisará fazer o povo ignorar, por exemplo, que ela já foi derrotada em duas campanhas presidenciais, em 2010 e 2014, para então convencê-lo de que sua candidatura não vai desidratar mais uma vez e de que vale a pena apoiá-la.
Marina tentou inicialmente atrair Joaquim Barbosa para a Rede, mas, não querendo ser vice de ninguém, o ex-presidente do STF ficou de dar resposta ao PSB até janeiro sobre sua eventual candidatura, à frente da qual ele teria de defender, por exemplo, sua posição contrária ao impeachment de Dilma Rousseff.
Jair Bolsonaro, que votou contra Dilma, Aécio e Temer, vem tentando fazer os analistas financeiros se aterem às suas recentes posições mais liberais em matéria de economia, em detrimento da mentalidade de militar nacionalista que o fizera defender estatais e criticar privatizações, como as da Vale do Rio Doce e da Telebras no governo de FHC.
Para isso, o deputado vem reconhecendo sua própria evolução neste sentido e anunciou o liberal clássico Paulo Guedes, um dos maiores economistas do Brasil, como seu provável ministro da Fazenda, o que tranquilizou o mercado e fez até a bolsa subir na segunda-feira, dada a crença de que, neste momento, é Bolsonaro quem tem maiores condições de derrotar Lula (ou qualquer outro candidato estatista de esquerda como Ciro Gomes, ou até Álvaro Dias, que defende estatais de setores estratégicos e, como o petista Lindbergh Farias, quer taxar grandes fortunas).
Bolsonaro, no entanto, também precisará evitar que o eleitorado, sobretudo o feminino, interprete como misoginia suas declarações mais polêmicas (a serem certamente exploradas pelos adversários) envolvendo mulheres.
Já João Amoêdo, do Partido Novo, a legenda fundada para ser de fato liberal, tem hoje 1% de intenções de voto no Ibope e no Datafolha, e não precisa fazer o povo ignorar nada. Precisa é não ser ignorado pelo povo, fazendo-se mais conhecido e convencendo o eleitorado de que tem chances reais de vitória.
Em geral, uma coisa é certa: a despeito de tudo que os candidatos tentarão fazer o povo esquecer durante suas campanhas, a eleição de 2018 será inesquecível.
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