Vão deixar o deputado assediador passar a mão em todas as mulheres?
As sucessivas decretações da legalidade do crime no Brasil não vem inocentando apenas quem rouba, corrompe e até mata por meio do vírus da Covid-19. A nova onda de impunidade também pode livrar a cara de quem apalpa, encoxa, humilha e importuna verbalmente mulheres. O que aconteceu na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) abriu outro precedente estarrecedor da parte dessa gente que acha que pode tudo...
As sucessivas decretações da legalidade do crime no Brasil não vem inocentando apenas quem rouba, corrompe e até mata por meio do vírus da Covid-19. A nova onda de impunidade também pode livrar a cara de quem apalpa, encoxa, humilha e importuna verbalmente mulheres. O que aconteceu na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) abriu outro precedente estarrecedor da parte dessa gente que acha que pode tudo. O deputado estadual que importunou sexualmente uma colega em plenário, em frente à presidência da casa, como mostra o vídeo com a cena escandalosa, não será cassado e nem mesmo ter o mandato suspenso por seis meses, como recomendou suavemente o relator da “Conselho de Ética” que analisou o caso. O colegiado diminuiu a punição que já seria branda para uma espécie de férias prolongadas: 119 dias de suspensão do mandato.
O deputado importunador chama-se Fernando Cury e pertence aos quadros do Cidadania, nome que rima com “ironia”. A deputada importunada é Isa Penna, do PSOL. Ao ser informada sobre a decisão do “Conselho de Ética”, ela declarou que se tratava de decisão “inaceitável”. Disse a deputada ao Estadão:
“Abre a porta para os assediadores. É um recado principalmente para quem assedia. É a legalização do assédio. É um rito que abre um precedente que é político, mas também é jurídico. Abre um precedente para um aprofundamento, um avanço ainda maior dessa cultura do assédio. Não é qualquer coisa o que aconteceu hoje. Isso mancha a história da Assembleia Legislativa.”
Por que 119 dias e não 120? Porque suspensões a partir de quatro meses implicam o fechamento do gabinete de um deputado punido — o que, no caso, implicaria a exoneração dos 23 funcionários que servem ao assediador Fernando Cury. O deputado apalpador manteve, assim, não apenas o seu séquito, como o direito a 4,5 milhões de reais em emendas, segundo afirmou Isa Penna ao jornal. Votaram a favor da punição ainda mais branda os seguintes cavalheiros que compõem o “Conselho de Ética”: Wellington Moura, do Republicanos, Delegado Olim, do Progressistas, Adalberto Freitas, do PSL , Alex de Madureira, do PSD, e o corregedor da Assembleia, Estevam Galvão, do DEM. Como definiu Isa Penna: “Sobre os cinco votos, eu quero dizer que eu acho que ali é o crème de la crème da escória da Assembleia Legislativa”.
O caso agora vai ao plenário da Alesp. Espera-se que a maioria dos deputados estaduais de São Paulo honre o cargo e imponha uma pena mais dura ao desclassificado. O governador João Doria precisa usar o seu peso político para que isso aconteça A legalização do crime — qualquer crime — não pode continuar no Brasil. Para além de uma punição severa dos seus pares, Fernando Cury merece o opróbrio cotidiano das mulheres que habitam o seu cotidiano e o ostracismo dos eleitores que nele votaram. Se o assediador tiver confirmada a sua folga prolongada, Fernando Cury e a Assembleia Legislativa de São Paulo passarão a mão em todas as brasileiras.
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