O julgamento do senador Sérgio Moro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) causou surpresa e reflexão no cenário político brasileiro. Muitos davam como certa a cassação do ex-juiz da Lava Jato, mas o desfecho foi diferente, um julgamento justo e técnico.
Muitos críticos de Moro colocavam todas as suas fichas em um julgamento político. Alguns inclusive preparavam argumentos para dar alguma credibilidade à decisão política que parecia inevitável. No entanto, o TSE contrariou essas expectativas.
Há quem diga que o caso de Moro poderia abrir um precedente prejudicial a candidatos do estabilishment. Afinal, são muitos os que lançam pré-candidatura a um cargo como presidente, governador ou prefeito e que, no final, apóiam um candidato mais forte e acabam concorrendo ao Legislativo.
Faz sentido, mas não explica a diferença de tratamento com Deltan Dallagnol. Ele foi cassado porque não poderia se candidatar tendo contra si processo administrativo no Ministério Público. Havia algum processo? Não. Se esse é o precedente, outras candidaturas também podem ser inviabilizadas mesmo se o indivíduo for do establishment.
A decisão no caso de Moro, entretanto, seguiu uma lógica distinta, levando muitos a questionar os critérios do TSE. Afinal, por que a justiça foi tão rigorosa com Dallagnol e mais flexível com Moro? A resposta pode estar na complexidade da política.
No dia da absolvição de Moro, a Justiça anulou praticamente todos os vestígios da Lava Jato. Acabaram os processos contra Renan Calheiros e Romero Jucá. A pena de José Dirceu foi extinta. Tudo contra Marcelo Odebrecht foi anulado, mesmo ele tendo feito delação premiada. Cereja do bolo: o Tribunal de Contas da União decidiu que Lula pode ficar com um relógio de luxo recebido quando presidente.
O poder muda as pessoas. Moro pode ter se dobrado ao STF depois dos afagos com o ministro Flavio Dino e o encontro com o ministro Gilmar Mendes? Pode. O TSE pode ter se sentido exposto demais e resolveu que esse julgamento precisava ser técnico porque manda uma mensagem importante? Também pode.
O fato é que não sabemos, apenas imaginamos. Só os ministros sabem por que votaram como votaram. E nós ainda vamos demorar a entender o que aconteceu ontem.
Idealizar pessoas, para o bem ou para o mal, é a matéria-prima para que populistas dominem milhões. A nós resta a disciplina de saber dividir nossa imaginação dos fatos. Eu torço para que Moro continue a postura anticorrupção.