Truco
Na busca mundial por alimentos e ao mesmo tempo pela prevenção à mudança climática, a sustentabilidade virou a carta na manga de um jogo planetário, guiado pela geopolítica, que tem tudo para beneficiar o Brasil. Se no jogo de truco, as manilhas são as cartas mais fortes, não faltam manilhas para nosso país...
Na busca mundial por alimentos e ao mesmo tempo pela prevenção à mudança climática, a sustentabilidade virou a carta na manga de um jogo planetário, guiado pela geopolítica, que tem tudo para beneficiar o Brasil.
Se no jogo de truco, as manilhas são as cartas mais fortes, não faltam manilhas para nosso país. O Brasil, pelas condições geográficas e climáticas favoráveis, além de investimentos em pesquisa e tecnologia, tem a agropecuária mais produtiva do planeta, isso em um cenário de crescimento da demanda mundial por alimentos. De outro lado, o Brasil tem a maior floresta tropical do mundo em seu território, a Amazônia, o que o coloca em posição chave na preservação ambiental e na prevenção da mudança climática.
O setor agropecuário faz bem a sua parte. Apesar da inflação ascendente e do dólar alto, que encarecem os insumos, a força do campo tem sido o trator decisivo para sustentar algum crescimento econômico no país. O setor, responsável por mais de um quarto do PIB do Brasil, também tem sido um dos mais inovadores em tecnologias sustentáveis. Investimentos em pesquisa, capitaneados em parte pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mas também pelo setor privado e por cooperativas, têm garantido uma gestão mais responsável dos recursos naturais, com aumento da produtividade.
Estive, nesta semana, visitando cidades do interior paulista e pude ver de perto o quanto setores como o sucroalcooleiro e o cítrico, por exemplo, têm logrado êxito ao reinventar-se periodicamente mediante a adoção de técnicas agrícolas mais produtivas e igualmente compatíveis com a preservação do meio ambiente. Conversei com grandes produtores agropecuários preocupados em fazer a sua parte, ou seja, progredir sem agredir o meio ambiente. Mais do que isso produtores, grandes ou pequenos, estão cientes da janela de oportunidade que representa a crescente demanda por alimentos aliada ao nascente mercado de redução das emissões de carbono (CO2).
Infelizmente muitos desses acertos no campo acabam sendo anulados por políticas ambientais erradas, por parte do governo federal. Erra-se a prática e o discurso. Em 2021, o desmatamento na Amazônia foi o maior dos últimos dez anos. Além disso, o enfraquecimento de agências como o ICMBio e o Ibama, pelo atual governo, tem incapacitado o Brasil de tomar medidas mais efetivas para coibir violações ao meio ambiente. Já o presidente da República serve-se, com frequência, de um discurso que soa como estímulo à infração ambiental e ao confronto com as reclamações estrangeiras contra o desmatamento ilegal da Amazônia. Como consequência, a ideia equivocada que vem sendo cristalizada mundo afora é a de que o país está devendo, e muito, em relação à proteção do meio ambiente.
É urgente corrermos atrás do prejuízo. A Amazônia deve ser, para nós brasileiros, um bônus nas negociações internacionais, e não um ônus, que nos transforme em um vilão ambiental. O País dispõe de tecnologias avançadas, de satélites, de monitoramento em tempo real, e que podem ser utilizados com eficiência. Urge buscar a meta do desmatamento ilegal zero na nossa grande vitrine verde, a maior floresta tropical do mundo. Um dos pontos da nossa proposta é implantar um “VIGIA VERDE”, programa de vigilância nas fronteiras com o qual obtivemos ótimos resultados no Ministério da Justiça, e que agora pode estar a serviço do combate à destruição ilegal da floresta amazônica. Urge buscar formas de desenvolvimento sustentável para a população da região, que pode se tornar uma importante aliada na vigilância contra práticas ilegais. Estimular o crescimento econômico, com desestímulo e repressão apenas ao comportamento ilegal.
Esse é o jogo que o mundo está jogando: desenvolvimento econômico e sustentabilidade como estratégias conjuntas, não como inimigos e concorrentes.
O Brasil já é líder na exportação de diversos produtos agropecuários. Mas nossa carne e nossos grãos podem ganhar ainda mais terreno internacional, se as autoridades federais souberem “diplomaticamente” abrir novos mercados e reduzir barreiras tarifárias, como as existentes em relação ao açúcar. Brinco que o Brasil tem, tal qual como em um jogo de truco, o zap e o sete copas nas mãos: a agropecuária mais produtiva do planeta e a maior floresta tropical do mundo. Promovendo o desenvolvimento sustentável, o que o setor privado já faz, em conjunto com a repressão ao desmatamento ilegal, o que o Governo deveria fazer, o Brasil teria o jogo favorável para romper barreiras comerciais aos nossos produtos, apresentando-se não como vilão, mas como uma liderança responsável. O jogo está pronto. Só precisamos saber usar essas cartas de um jeito certo para vencer, sem necessidade de blefar. A rodada do futuro tem que ser nossa.
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