Esta semana, Romero Jucá foi saudado num discurso do presidente da República em um evento oficial. Lula disse, em tom de brincadeira, que ele é esperto porque continua senador sem ser.
Tempos atrás, O Antagonista mostrou um vídeo que exemplifica essa realidade. O ex-senador comemorava ter conseguido recursos para combater a Covid em seu Estado. Só que ele não é senador mais, não tem mandato nenhum. Como teria conseguido isso? Pois é.
Romero Jucá é o tipo de político que consegue muita coisa. Entrou na política ainda na ditadura militar, quando trabalhava com Marco Maciel em Pernambuco. Acabou sendo indicado pelo General Figueiredo para a presidência da FUNAI. A gestão foi marcada por polêmicas com Yanomamis e acusações de favorecimento de madeireiros, uma vibe meio Ricardo Salles.
No governo José Sarney, virou governador biônico de Roraima, que virou seu berço político. Primeiro elegeu a mulher, tentou o senado e não conseguiu. Mas conseguiu postos importantes no governo Collor. Aconteceu o impeachment, mas Romero Jucá caiu para cima.
Em 1994, conseguiu se eleger senador. Virou vice-líder do governo Fernando Henrique. Depois, Lula se elegeu. Virou líder do governo Lula no Senado. Também foi líder de Dilma Rousseff e depois articulou pelo impeachment da presidente. Acabou sendo Ministro do Planejamento de Michel Temer.
Caiu num vazamento de conversa gravada na era da Lava Jato. É a famosa gravação do acordo “com Supremo e com tudo” para estancar as coisas onde estavam. É a partir daí que vira esse personagem definido por Lula, o senador que não tem mandato.
Uma coisa mudou muito desde o início da carreira de Romero Jucá, o interesse do brasileiro pela política. Isso cresceu muito e é algo vivo. No entanto, temos uma tendência cultural a fazer tudo descambar para o entretenimento, o BBB. Surgiu também a torcida de político.
É algo conflitante. Quando aparentemente não se interessava por política, o brasileiro tendia a botar todos os poderosos numa lupa e reclamar constantemente dos abusos e desmando dos políticos e do Estado. Agora isso diminuiu, abrindo espaço para torcidas de políticos que justificam desmandos e abusos.
Há quem veja o mundo político por um único prisma, infantilizado, que separa o mundo entre bem e mal pelos critérios de esquerda, direita, progressista e conservador. Esse grupo tende a carimbar os Romeros Jucás da política como “centrão”, aquele poder com quem o herói precisa negociar para não ser alijado de tudo.
As coisas são mais complexas. Romero Jucá não esconde a que vem. A ideologia não é prioridade, as circunstâncias sim. Existe muita gente que pensa e age como ele na política. Os mais perigosos são os que enfeitiçam as pessoas com inflamados discursos ideológicos nos quais nem eles próprios acreditam.