O vereador petista e o padre de olhos azuis
Hoje é dia de falar sobre energúmenos. Eles transbordam de todos os lados, mais do que rio sujo em dia de chuva torrencial no Brasil. Li o que o vereador Renato Freitas (foto), do PT de Curitiba, disse ao Estadão, sobre o protesto dentro da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, no centro histórico da capital paranaense. No último sábado, o vereador e e um grupo de militantes decidiram fazer uma manifestação contra o assassinato brutal do congolês Moise Kabagambe e o do estoquista de supermercado Durval Teófilo Filho, morto a tiros por um vizinho que o confundiu com um ladrão, ambos no Rio de Janeiro. De acordo com Renato Freitas, o ato foi planejado para ser na frente da igreja, mas eles acabaram entrando lá por culpa do padre...
Hoje é dia de falar sobre energúmenos. Eles transbordam de todos os lados, mais do que rio sujo em dia de chuva torrencial no Brasil. Li o que o vereador Renato Freitas (foto), do PT de Curitiba, disse ao Estadão, sobre o protesto dentro da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, no centro histórico da capital paranaense. No último sábado, o vereador e um grupo de militantes decidiram fazer uma manifestação contra o assassinato brutal do congolês Moise Kabagambe e o do estoquista de supermercado Durval Teófilo Filho, morto a tiros por um vizinho que o confundiu com um ladrão. De acordo com Renato Freitas, o ato foi planejado para ser na frente da igreja, mas eles acabaram entrando lá por culpa do padre. O vídeo viralizou e Jair Bolsonaro foi para o Twitter trombetear que “acreditando que tomarão o poder novamente, a esquerda volta a mostrar sua verdadeira face de ódio e desprezo às tradições do nosso povo. Se esses marginais não respeitam a casa de Deus, um local sagrado, e ofendem a fé de milhões de cristãos, a quem irão respeitar?”
O fato de Jair Bolsonaro atacar um energúmeno não torna o energúmemo menos energúmeno. O vereador petista é um energúmeno. Em seu perfil no Instagram, Renato Freitas justificou da seguinte forma a — vamos chamar pelo nome — invasão: “É uma igreja que foi construída em 1737, justamente porque os negros, nossos ancestrais, não podiam frequentar outras igrejas que eram frequentadas por brancos e tiveram que fazer uma igreja apenas para si. Então essa igreja tem um valo simbólico enorme pra gente. Por isso a gente entrou e reivindicou a valorização da vida”. Para valorizar a vida, precisava desvalorizar a igreja desse jeito? Por acaso, o padre havia apoiado as mortes de Moise e Durval? Não teria sido melhor organizar uma missa em memória das duas vítimas, na igreja construída por escravos para ser frequentada por escravos? Que raio de simbolismo é esse que deprecia o próprio símbolo?
Ao Estadão, o vereador petista abriu o jogo — e mostrou que, como todo idiota, acredita ser muito inteligente. Perguntado por que ele e sua turma haviam decidido entrar na igreja, Renato Freitas afirmou o seguinte: “O padre estava lá fora. Ele e mais uma pessoa, acho. Aí começaram a entrar em debate, questionando o que estávamos fazendo ali, que era barulhento. Foi essa falta de empatia do padre com a causa negra que, de alguma forma, gerou os microconflitos, as discussões. A gente achou que, para interromper aquelas discussões, o melhor seria entrar na igreja e fazer uma fala lá dentro, em nome da valorização da vida. Para que todos ouçam e entendam as nossas reivindicações, sobretudo naquele espaço. É muito contraditório: a gente construiu um espaço que, no final das contas, é gerido por um padre branco, de olhos azuis, descendente de europeus, que o ocupa sem a consciência do que aquilo, de fato, representa. A porta já estava aberta, como manda o manual da igreja, não tinha nenhum rito acontecendo, o padre, inclusive, ficou ao nosso lado”.
Se um padre branco, de olhos azuis, descendente de europeus, não pode gerir uma igreja construída por escravos pretos, então é lícito imaginar, no limite, que um descendente de escravos não pode ser papa de uma religião edificada por brancos. A estupidez do vereador petista é incomensurável. Renato Freitas vê cor onde Deus não vê. Mas não sejamos injustos: a estupidez é geral, ampla e irrestrita.
Sobre a “falta de empatia” do padre, voto a favor da arquidiocese de Curitiba. Inclusive porque mentir é pecado para católicos, mas é qualidade para políticos, em especial petistas. O arcebispo José Antonio Peruzzo qualificou a invasão de “profanação injuriosa” e afirmou que “solicitados a não tumultuar o momento litúrgico, lideranças do grupo instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos (…) Infelizmente, o que houve no último sábado foram agressividades e ofensas. É fácil ver quem os estimulou”.
É fácil ver também que estamos encalacrados à esquerda, à direita e ao centro, com uma gente boçal que dança alegremente a música dos desonestos venais e intelectuais. Aprofundou-se abissalmente no Brasil aquela característica humana contra a qual os próprios deuses lutam em vão, como escreveu Schiller: a burrice. Nunca fomos tão energúmenos.
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