O problema de Ciro é a falta de estratégia de Ciro
Na semana passada, Ciro Gomes esteve em evidência por ter enfrentado um comediante petista que o atacou por insistir em ser candidato e, assim, não deixar que Lula ganhe no primeiro turno. Ciro rebateu dizendo que ainda há um grande número de brasileiros indecisos que poderiam votar nele. Ciro está certo. O número de eleitores dispostos a mudar de voto também é expressivo (a Crusoé, aliás, publicou uma excelente reportagem na qual aborda uma certa volubilidade do eleitor brasileiro). De fato, a última sondagem do Ipespe, abordada por Diogo Mainardi em artigo publicado no fim de semana, aponta que 11% dos eleitores "com certeza" votariam em Ciro e 43% "poderiam votar". O tal "voto estratégico" contra Jair Bolsonaro, que os lulistas pregam no primeiro turno, só faz sentido para quem despreza o aspecto democrático de uma eleição em dois turnos...
Na semana passada, Ciro Gomes (foto) esteve em evidência por ter enfrentado um comediante petista que o atacou por insistir em ser candidato e, desse modo, não deixar que Lula ganhe no primeiro turno. Ciro rebateu dizendo que ainda há um grande número de brasileiros indecisos que poderiam votar nele. Ciro está certo. O número de eleitores dispostos a mudar de voto também é expressivo (a Crusoé publicou uma excelente reportagem na qual aborda a volubilidade do eleitor brasileiro). De fato, a última sondagem do Ipespe, abordada por Diogo Mainardi em artigo publicado no fim de semana, aponta que 11% dos eleitores “com certeza” votariam em Ciro e 43% “poderiam votar”. O tal “voto estratégico” contra Jair Bolsonaro, que os lulistas pregam no primeiro turno, só faz sentido para quem despreza o aspecto democrático de uma eleição em dois turnos. No primeiro turno, você deveria votar em quem acredita; no segundo, no candidato que julga menos ruim.
O maior problema de Ciro é o próprio Ciro. E eu nem vou falar do temperamento explosivo, porque isso está longe de ser questão num país que gosta de políticos emotivos. Também não vou perder tempo com as ideias erradas de Ciro sobre economia, visto que boa parte dos brasileiros, neste momento, está dividida entre dois candidatos com ideias bastante estapafúrdias mais ou menos sobre tudo. O problema de Ciro é o Ciro que não tem estratégia, apenas tática — e o seu partido está cheio de lulistas.
Ciro associou o seu nome a Lula quando poderia ter-se distanciado dele completamente. Em 2018, tentou que o PT o apoiasse, com Fernando Haddad como vice, e tomou uma vassourada. Qual teria sido o caminho certo do ponto de vista estratégico? Colocar-se já naquele momento como o candidato de centro-esquerda que não compactuava de jeito nenhum com a corrupção petista. É o que ele vem tentando fazer agora, mas fruto dessa boa decisão já poderia ter sido colhido desde a última eleição.
Como político de centro-esquerda, ele poderia avançar bastante entre os eleitores desse espectro ideológico que torcem o nariz para a história de corrupção de Lula e que só votarão no petista para evitar a reeleição de Jair Bolsonaro. Ele também teria chance de conquistar eleitores mais ao centro, ao posicionar-se claramente a favor da Lava Jato. Como acreditar, no entanto, no discurso de Ciro contra a corrupção petista se o seu marqueteiro é João Santana? Precisava ter escolhido um preso pela Lava Jato cujo nome se liga indissociavelmente ao do PT? Ciro tentou contornar esse constrangimento, afirmando que João Santana cometeu um “grosseiro equívoco” e pagou a pena. Tendo a crer que muitos eleitores de centro-esquerda pensam que, já que é assim, o melhor é ficar com o patrão original do marqueteiro. Além disso, por que Ciro tratou de desancar violentamente Sergio Moro, como se ele próprio tivesse sido atingido pela sua caneta? Acabou ajudando na vitimização de Lula, embora a intenção fosse enfraquecer a candidatura do ex-juiz. Se não tivesse feito isso, talvez até pudesse atrair em peso o voto dos moristas que perderam o seu ídolo na corrida ao Planalto.
Há ainda outro ponto que, acredito, tende a afastar eleitores de sua candidatura. Existe a crença de que, se for derrotado no primeiro turno, ele apoiará Lula, ainda que tenha dito que “nunca mais” se aliará ao PT. No segundo turno, Ciro pode até se mandar para Paris, como fez em 2018. Mas o seu partido, o PDT, aderirá gostosamente ao petista, em nome da formação de uma “frente democrática”. Aliás, fosse pela vontade de muitos pedetistas, Ciro acataria a sugestão do comediante petista e abandonaria o barco. Esse descompasso leva a que se pense que o negócio, então, é escolher logo Lula, abster-se ou anular o voto.
O candidato do PDT paga o preço de escolhas passadas e presentes, mas ainda tem oportunidade de superar as dificuldades que ele próprio e o seu partido criaram. Repetindo: há um monte de gente indecisa e disposta a mudar de opção. Neste momento, entre as disponíveis a Lula e Jair Bolsonaro, Ciro é o que está na dianteira nas pesquisas de intenção de voto (8%, segundo o Ipespe) e também como “segunda escolha” dos eleitores — 27%, de acordo com a mesma sondagem. Ser o segundo nome para um terço dos brasileiros é valioso a cinco meses das eleições. A pressão petista sobre ele tem razão de ser e não tem graça nenhuma.
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