O cidadão é sempre a cobaia | O Antagonista O cidadão é sempre a cobaia | O Antagonista
O Antagonista

O cidadão é sempre a cobaia

avatar
Carlos Graieb
3 minutos de leitura 12.07.2023 17:33 comentários
Opinião

O cidadão é sempre a cobaia

Lula decidiu encerrar com uma canetada o programa de escolas cívico-militares instituído por...

avatar
Carlos Graieb
3 minutos de leitura 12.07.2023 17:33 comentários 0
O cidadão é sempre a cobaia
Exército Brasileiro - Reprodução

Lula decidiu encerrar com uma canetada o programa de escolas cívico-militares instituído por Jair Bolsonaro à margem do Plano Nacional de Educação 2014-2024. No nascimento e na morte, portanto, o chamado Pecim ilustra o voluntarismo dos governantes brasileiros e, no caso desses dois presidentes, o peso das escolhas ideológicas, em desfavor da gestão.

O parecer do Ministério da Educação que embasa a liquidação do modelo cívico-militar não tem uma linha sequer sobre os resultados obtidos pelas 209 escolas que o adotaram. Nada se diz sobre os índices de aprendizado ou sobre mudanças no ambiente escolar.

Nos quatro anos da implantação, os colégios cívico-militares não melhoraram significativamente o aprendizado de seus alunos, segundo dados do próprio Ministério da Educação. Mas eles aproximaram as escolas do entorno social e das famílias dos alunos, fortaleceram o relacionamento entre os professores e suas classes, reduziram casos de violência e depredação e diminuíram os números de abandono escolar – todos esses eram objetivos ostensivos do programa, que deu atenção especial a escolas com um histórico grave de degradação.

Se fosse guiada por evidências, a decisão do governo Lula talvez mantivesse o experimento, se não em todas, em várias das escolas. Em vez disso, optou-se por encerrar o programa sem uma avaliação caso a caso, com argumentos desonestos como o de que as escolas cívico-militares incentivam a “aporafobia” (ou aversão aos pobres). No retorno para o modelo “normal” de escola haverá a tentativa de minimizar o impacto que isso pode ter para os alunos – o que não é tranquilizador.

Nada disso quer dizer que a iniciativa do governo Bolsonaro seja imune a críticas. Como já observado, ela foi levada adiante mesmo sem ter qualquer ligação com o Plano Nacional de Educação em vigor.

A gestão das escolas, entregue aos militares, não se mostrou consistentemente melhor que a realizada por civis. Mas os gastos com a remuneração dos oficiais da reserva chamados a trabalhar no programa se multiplicaram rapidamente durante o governo Bolsonaro, chegando a R$ 64 milhões só em 2022. Para efeito de comparação, só R$ 33 milhões foram gastos nesse mesmo ano com a implementação do novo ensino médio – que tem impacto universal, enquanto os colégios cívico-militares atendem um número ínfimo de alunos.

Esse foi inegavelmente mais um movimento do ex-presidente para beneficiar os militares, a sua “base sindical”, independentemente de outros ganhos que pudessem existir. Sem falar, é claro, do propósito de fazer um contraponto à influência dos professores de esquerda que, na frase inqualificável de Eduardo Bolsonaro, “são piores que traficantes de drogas”.

Essa, enfim, é mais uma daquelas histórias em que um governo implementou um programa ao seu gosto ideológico, apenas para vê-lo desmontado pelo governo seguinte, de sabor ideológico inverso, sem análise mais cuidadosa do impacto da decisão. E o cidadão é sempre a cobaia.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Crusoé: Khamenei faz piada ao cantar vitória do Hezbollah

Visualizar notícia
2

O radicalismo islâmico e os terroristas mais perto do que imaginamos

Visualizar notícia
3

Josias Teófilo na Crusoé: A política woke foi vencida?

Visualizar notícia
4

Hezbollah confirma morte do líder Hassan Nasrallah

Visualizar notícia
5

Quem é o maior apresentador de TV de todos os tempos?

Visualizar notícia
6

Israel em “alerta máximo” após morte de líder do Hezbollah

Visualizar notícia
7

Lula quer a paz, desde que Ucrânia e Israel sejam varridos do mapa

Visualizar notícia
8

“Morte de líder do Hezbollah torna o mundo um lugar mais seguro”

Visualizar notícia
9

Impeachment de ministro do STF não é desejável no debate, diz Barroso

Visualizar notícia
10

General iraniano também foi morto em ataque no Líbano

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

EUA ordenam saída de funcionários da embaixada no Líbano

Visualizar notícia
2

Wal do Açaí é agredida em evento de campanha no Rio de Janeiro

Visualizar notícia
3

João Pessoa: prisão da primeira-dama eletriza disputa eleitoral

Visualizar notícia
4

‘Coaches da sedução’ se tornam réus por ‘curso de pegação’

Visualizar notícia
5

Netanyahu alerta Irã: “Não há lugar fora do nosso alcance”

Visualizar notícia
6

Rússia condena morte de líder do Hezbollah

Visualizar notícia
7

“Medida de justiça”, diz Biden sobre morte de líder do Hezbollah

Visualizar notícia
8

Rodolfo Borges na Crusoé: Viúvas de Jorge Jesus, porém honestas

Visualizar notícia
9

Solidariedade vai ao STF contra as bets

Visualizar notícia
10

Abbas, que se reuniu com Lula na ONU, lamenta morte de líder do Hezbollah

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Carlos Graieb escolas cívico-militares Jair Bolsonaro Lula MEC Pecim
< Notícia Anterior

Decisão de Lula sobre escolas cívico-militares é revanchista, diz Mourão

12.07.2023 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Papo Antagonista: A nova batalha ideológica entre lulistas e bolsonaristas

12.07.2023 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Jerônimo Teixeira na Crusoé: O que perdemos quando perdemos o X

Jerônimo Teixeira na Crusoé: O que perdemos quando perdemos o X

Visualizar notícia
O radicalismo islâmico e os terroristas mais perto do que imaginamos

O radicalismo islâmico e os terroristas mais perto do que imaginamos

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
TodEs: a ideia misógina de substituir mãe e pai por parturiente e responsável legal

TodEs: a ideia misógina de substituir mãe e pai por parturiente e responsável legal

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Pablo Marçal virou o próprio meme: foi cortado pelo Tramontina

Pablo Marçal virou o próprio meme: foi cortado pelo Tramontina

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.