O artigo de Carlos França sobre a COP-26 e por que Bolsonaro é um pária
Por que será que Bolsonaro teve tanto sucesso em transformar-se num pária internacional? O artigo que o chanceler brasileiro Carlos França publicou neste domingo na Folha de S. Paulo aponta uma resposta...
Jair Bolsonaro não vai à conferência climática COP-26, que começa amanhã, para não levar “pedradas” (metafóricas ou reais).
Neste fim de semana, a agenda oficial do nosso antipresidente não registrou reuniões significativas durante a cúpula do G20, em Roma. Ao conseguir acesso à sala do cafezinho onde os chefes-de-estado aguardavam o começo da reunião, o repórter Jamil Chade mostrou ainda um Bolsonaro excluído das rodinhas de conversa entre os líderes das principais economias do mundo.
Por que será que Bolsonaro teve tanto sucesso em transformar-se num pária internacional? O artigo que o chanceler brasileiro Carlos França publicou neste domingo, na Folha de S. Paulo, indica a resposta.
França propagandeia as metas brasileiras para a redução das emissões de gases de efeito estufa como se fossem prova de liderança do Brasil no tema.
Nem vem ao caso discutir os números, porque, embora importantíssima, a pauta das emissões é velha.
O tema realmente crucial em 2021, quer do ponto de vista científico, quer do político, é o sequestro de gás carbônico da atmosfera. Os especialistas chegaram à conclusão que já não basta reduzir emissões para evitar um desastre climático neste século: é preciso também sugar o CO2 que já está por aí.
A floresta Amazônica sempre foi uma grande “consumidora” de gás carbônico. Um estudo divulgado no primeiro semestre deste ano, porém, mostrou que na última década o mecanismo se inverteu: a Amazônia liberou mais gás carbônico do que sequestrou.
Talvez essa mudança ainda seja reversível. Para isso seria necessário levar a sério a necessidade de preservação da mata – um tema que Bolsonaro abomina. O artigo de Carlos França nem sequer menciona o assunto. Nenhuma palavra. Zero.
Enquanto o mundo se debruça sobre modelos climáticos criados no computador, levando em conta milhões de variáveis, o governo Bolsonaro, até outro dia, insistia em levar diplomatas para sobrevoos da Amazônia.
É ridículo imaginar que o impacto visual da floresta sirva para alguma coisa, quando o monitoramento por satélite dos países avançados consegue enxergar até a marca das motosserras usadas no desmatamento.
É por isso que os líderes mundiais não têm paciência para conversar com Bolsonaro: porque ele acha que é possível engambelar o mundo com passeios de avião e lero-lero, e por causa do seu enorme, amazônico despreparo.
PS1: Outro motivo por que Bolsonaro é um espalha rodinhas: nenhum político como Angela Merkel, Emmanuel Macron ou Boris Johnson gosta de servir de escada, como se diz no teatro, para quem só enxerga nas relações internacionais uma oportunidade propagandística. Bolsonaro já mostrou ser esse tipo de governante mequetrefe. Mês passado, na ONU, mentiu como se não houvesse amanhã. E mentiu mais uma vez em Roma, nos poucos instantes em que conseguiu trocar palavras com Recep Tayyip Erdogan. Antes que o turco escapasse, Bolsonaro afirmou que a economia brasileira está bombando e que sua popularidade é imensa. Além de Chade, que fez o registro jornalístico, certamente algum assessor captava tudo, para deleitar bolsonaristas.
PS2: Será que os representantes das principais economias do mundo se incomodam com as inclinações autoritárias de Bolsonaro? É possível que alguns até sintam nojinho de cumprimentá-lo por essa razão. Mas o turco Erdogan e o indiano Narendra Modi – para não falar no russo Vladimir Putin e no chinês Xi Jinping, que dessa vez não compareceram à reunião do G20 – já se provaram muito mais hábeis que Bolsonaro em criar movimentos populistas e instaurar aparelhos repressivos em seus países. Mundo afora, eles são vistos com desconfiança e preocupação. Mas não são esnobados pelos seus colegas. Nenhuma política exterior que se preze é comandada pelas vísceras, nem baseada tão somente em bons princípios. Indispensável é a existência de um interlocutor que tenha algo importante a dizer.
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