Não importa se Putin está louco ou doente
Os ucranianos civis que permanecem em Kiev, firmes na disposição de ajudar na resistência ao exército russo que avança com dificuldade rumo à capital do país, cercam a praça Maidan, no centro da cidade, com barricadas feitas de sacos de areia. Defendem, assim, o local de onde irradiou a revolução de 2013-2014, que derrubou o fantoche de Vladimir Putin (foto) que ocupava a presidência da República, Viktor Ianoukovitch, por ter traído a sociedade ucraniana ao não assinar o acordo que permitiria o ingresso da Ucrânia na União Europeia...
Os ucranianos civis que permanecem em Kiev, firmes na disposição de ajudar na resistência ao exército russo que avança com dificuldade rumo à capital do país, cercam a praça Maidan, no centro da cidade, com barricadas feitas de sacos de areia. Defendem, assim, o local de onde irradiou a revolução de 2013-2014, que derrubou o fantoche de Vladimir Putin (foto) que ocupava a presidência da República, Viktor Ianoukovitch, por ele ter traído o povo ao não assinar o acordo que permitiria o ingresso da Ucrânia na União Europeia.
Homens e mulheres, velhos e jovens, juntavam-se ontem nesse esforço de construção de barricadas, ao som do hino ucraniano, numa demonstração de que o patriotismo pode não ser apenas o último refúgio dos canalhas, como escreveu Samuel Johnson, mas também o dos heróis anônimos. Assim como ocorreu na Revolução da Praça Maidan e, decênios antes, nos sofrimentos infligidos por Adolf Hitler e Josef Stalin, o patriotismo ucraniano vem sendo forjado no sangue, no suor e nas lágrimas — e, nesse caso, essa está longe de ser apenas uma imagem de oratória.
Vladimir Putin tenta cancelar a existência da Ucrânia como país, mas as suas fronteiras são bem definidas e muito mais amplas do que ele imagina, porque estão desenhadas nas almas dos resistentes e mesmo daqueles que escaparam do inferno russo, para salvar as suas crianças e velhos. Hoje, o número de refugiados deverá chegou a 2 milhões. A previsão é que até 5 milhões de ucranianos poderão afluir à Polônia, Eslováquia, Romênia e Moldávia, que fazem fronteira com o país agredido covardemente pela Rússia. Mas se engana quem pensa que isso representa uma derrota: redobra a força dos que ficaram.
Enquanto os soldados de Vladimir Putin arrasam cidades inteiras, matando e aterrorizando civis, e fingem organizar “corredores humanitários”, o Ocidente pergunta-se se o ditador russo está desequilibrado. Diante dos absurdos a que se assiste na Ucrânia, o pretexto falso de que a Otan é uma ameaça e de que o país foi invadido por ser “nazista” e persegue as minorias de língua russa caiu completamente por terra, sobrevivendo apenas na propaganda comandada pelo Kremlin e nas mentes idiotas que povoam as redes sociais.
De fato, desde que começou a pandemia de Covid-19, o ditador russo isolou-se ainda mais do já pouco convívio humano que mantinha, convivendo apenas com os seus fantasmas e ilusões de onipotência. Hoje, segundo se diz na imprensa europeia, ele tem contato com apenas cinco pessoas. Uma das suposições é que o seu medo exagerado de pegar o vírus é porque ele padece de uma doença grave que fragilizou o seu sistema imunitário. A outra é que, com a paranoia elevada à enésima potência, ele receia ser assassinado por um opositor infiltrado no Kremlin. Não há necessariamente excludência nessas possibilidades.
Se Vladimir Putin está louco, doente ou ambas as coisas não importa para os ucranianos, da mesma forma que a saúde mental de Adolf Hitler não importava para os povos dos quais foi carrasco. Deveria importar apenas para os próprios russos. O fato verificável é que tudo o que Vladimir Putin perpetra hoje já foi cometido por ele em outros conflitos. Usar “corredores humanitários” como armadilhas para civis, por exemplo, foi artifício utilizado na Síria, em 2015, para tomar a cidade de Alep, que resistia ao ditador Bashar al-Assad. Os “corredores humanitários” só facilitavam o bombardeio mortífero de vítimas indefesas. Os ataques aéreos a alvos civis também ocorreram em Grozny, na Chechênia, em 1994 e 1999, e em Donbas, na própria Ucrânia, em 2014. A sua crença de que foi um erro trágico deixar o império soviético esfacelar-se vem sendo manifestada desde que ele assumiu poder, há 22 anos.
Há linha de pensamento e método, portanto, no que seria a loucura de Vladimir Putin — e, se ele sofre de alguma doença terminal, só está apressando o que sempre pensou ser o seu destino, o de ressuscitar o que pensa ser a “grande Rússia”. A pergunta a ser feita continua a ser como é que o Ocidente pôde fechar os olhos para um personagem demoníaco como esse, seja por meio da tibieza na reação às suas brutalidades, seja pela dependência do gás e do petróleo russos.
É essa pergunta que deve estar na cabeça dos ucranianos que hoje constroem barricadas na Praça Maidan.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)