Lula subiu nas tamancas do populismo Lula subiu nas tamancas do populismo
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Lula subiu nas tamancas do populismo

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 07.02.2023 17:16 comentários
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Lula subiu nas tamancas do populismo

Nesta segunda-feira (6), Lula subiu nas tamancas do populismo para atacar seu inimigo do momento, o Banco Central.  Embora o discurso fosse no BNDES, e sobre o papel do BNDES, boa parte foi dedicada a criticar o BC. As tamancadas populistas – que nada mais são do que golpes baixos – vieram na menção a uma ameaça futura de rebelião dos pobres e na incitação aos empresários, para que pressionem a "autoridade monetária" a baixar os juros.

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5 minutos de leitura 07.02.2023 17:16 comentários 0
Lula subiu nas tamancas do populismo
Foto: TV Brasil

Nesta segunda-feira (6), Lula subiu nas tamancas do populismo para atacar seu inimigo do momento, o Banco Central.

Embora o discurso fosse no BNDES, e sobre o papel do BNDES, boa parte foi dedicada a criticar o BC. As tamancadas populistas – que nada mais são do que golpes baixos – vieram na menção a uma ameaça futura de rebelião dos pobres e na incitação aos empresários, para que pressionem a “autoridade monetária” a baixar os juros,

Lula disse que o levante do 8 de janeiro foi “coisa de rico que perdeu as eleições”. Logo em seguida ameaçou a plateia com a ideia da revolução proletária. “Nós não podemos brincar, porque um dia o povo pobre pode se cansar de ser pobre e pode resolver fazer as coisas mudarem nesse país”, afirmou o presidente. Manter os juros altos seria uma dessas brincadeiras perigosas.

Lula também disse que nos seus mandatos anteriores, quando o BC era subordinado à presidência, toda reunião de seu comitê, o Copom, era seguida de ranger de dentes dos industriais. “Quando o Banco Central era subordinado a mim, o único dia em que a Fiesp falava era o dia em que aumentavam os juros”, disse ele. “Agora eles não falam. Se a classe empresarial não se manifestar, sinceramente, os juros não vão baixar.”

Há dois componentes na bronca de Lula com o BC – um que vem da política e outro que se baseia numa confusão conceitual das mais fuleiras.

O componente político tem a ver com o bolsonarismo – inegável – de Roberto Campos Neto. O presidente do BC continua participando de grupos de WhatsApp com gente do governo anterior. Recentemente, Bolsonaro disse, dos Estados Unidos, que o Brasil está a caminho de uma grande recessão. Como todo político no poder é paranóico, é bem possível que Lula tenha montado um quadro mental em que as taxas de juros permanecem altas para levar seu governo à ruína.

A suspeita faria sentido se o BC estivesse agindo contra a sua missão institucional ao definir os juros. Não é o caso. E aí entra a confusão conceitual. No discurso no BNDES, Lula deu a entender que a missão do BC é cuidar dos juros, quando ela, na verdade, é manter a inflação sob controle, sendo a taxa de juros apenas a ferramenta disponível para isso.

Veja outro trecho de sua fala: “Eu pensei, agora resolveu tudo, o BC é independente não vai mais ter problema de juro. Ledo engano. O problema não é o BC ser independente ou subordinado ao governo, é que esse país tem uma cultura de viver com juros altos que não combina com as necessidades de crescimento.”

A única ideia correta nessa declaração é que o Brasil tem uma cultura rentista, de gente que vive das rendas derivadas dos juros altos. Ainda assim, falta dizer que o Brasil também tem uma cultura inflacionária que não beneficia ninguém, muito menos os pobres. A inflação brasileira é como aquele fungo da série The Last of Us: a qualquer descuido, ele domina o organismo inteiro. Um manejo cauteloso da taxa de juros é o antídoto.

Roberto Campos Neto também falou nesta terça (7). Explicou, em uma palestra nos Estados Unidos, que a independência do BC serve para desatrelar os tempos da política e da economia. Bingo.

Lula tem pressa. Juros altos deprimem a atividade econômica e crescimento retardado é um problemaço para quem prometeu um nirvana de picanha e cervejinha, a curto prazo, para os eleitores. O timing do BC é outro. As projeções com que trabalha mostram uma tendência inflacionária que não pode ser detida com uma queda imediata dos juros.

Quanto antes o governo apresentar sua regra de contenção da dívida pública, mais contribuirá para que a queda na taxa de juros seja antecipada. É o que pode fazer de melhor. Quaisquer outras indicações concretas de que não acionou o botão da gastança também podem ajudar. Em vez disso, Lula prefere transformar o BC em um bicho papão.

A fala de Lula nesta segunda-feira foi pior do que as críticas que ele vinha dirigindo anteriormente ao banco porque, dessa vez, ele procurou mobilizar o medo e a raiva contra quem o incomoda. Usou a tática dos populistas, levando a história para um outro patamar. Gente do governo diz que não se deve esperar que esse tom arrefeça, porque o medo de não conseguir entregar suas promessas na velocidade desejada leva Lula a procurar um bode-expiatório, a quem possa culpar por fracassos.

Nada de bom pode vir disso.

 

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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