Lula com e sem Piaget
Lula tem duas imagens: a do político que gosta de usar relógio Piaget, de 80 mil reais, e a do político cujo relógio Piaget, de 80 mil reais, é escondido pelo PT, como ocorreu no episódio que noticiamos ontem. A página oficial do PT no Instagram compartilhou no sábado uma foto em que Lula acena para a sua claque, em Niterói, usando um relógio Piaget. A imagem foi inicialmente publicada por Gleisi Hoffmann. Na manhã de domingo, contudo, a foto aparecia cortada, sem que o acessório de luxo pudesse ser identificado...
Lula tem duas imagens: a do político que gosta de usar relógio Piaget, de 80 mil reais, e a do político cujo relógio Piaget, de 80 mil reais, é escondido pelo PT, como ocorreu no episódio que noticiamos ontem. A página oficial do PT no Instagram compartilhou no sábado uma foto em que Lula acena para a sua claque, em Niterói, usando um relógio Piaget. A imagem foi inicialmente publicada por Gleisi Hoffmann. Na manhã de domingo, contudo, a foto aparecia cortada, sem que o acessório de luxo pudesse ser identificado.
O Lula sem medo de ser feliz com o seu relógio Piaget, de 80 mil reais, reúne-se com empresários e banqueiros, para assegurar-lhes que não cometerá loucuras na economia e contra a democracia. Foi o que ele fez há um mês, de acordo com noticiado por Lauro Jardim, em O Globo. O jornalista publicou que, num jantar em São Paulo, com Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Claudio Ermírio de Moraes, que comanda o Grupo Votorantin, Eduardo Sirotsky, da EB Capital, e José Seripieri Junior da Saúde! — este último, o anfitrião, foi preso pela Lava Jato e fechou um acordo de delação premiada pelo qual pagou 200 milhões de reais, detalhe sem importância no Brasil varonil pós-combate à corrupção.
O que disse Lula Piaget a esses capitalistas? Que, se eleito, haverá segurança jurídica, sem espírito de vingança e revanchismo, como ocorreu durante os oito anos em que ele foi presidente da República. Que fará o possível para conquistar a confiança dos empresários e que todos devem olhar para a frente e deixar as diferenças de lado. Segundo Lauro Jardim, ele também pediu aos presentes para que dessem o seu testemunho sobre a sua confiabilidade. Em resumo, Lula Piaget garantiu que que ninguém se preocupasse com Lula Sem Piaget.
Lula Sem Piaget é o das falas contra a responsabilidade fiscal, a propriedade privada e que quer censurar a imprensa e as redes sociais. Que vocifera contra a Globo, quis classificar O Antagonista como “associação criminosa” e quer mais indenização do ex-procurador Deltan Dallagnol, por causa do powerpoint que aclarou o papel do denunciado no maior esquema de corrupção da história do Brasil — e que prometeu, na semana passada, abrir outros processos contra quem noticiou os fatos descritos pela Lava Jato.
Lula sempre foi isto: um sindicalista de resultados, que, na época da ditadura, movia-se habilmente entre a peãozada e os órgãos de repressão e os empresários que davam sustentação ao regime. Que chora lágrimas de crocodilo quando fala da sua (longínqua) pobreza e deleita-se com a riqueza dos vinhos de 30 mil reais a garrafa. Que se vendeu como defensor da democracia e, ao mesmo tempo, a demoliu por meio de esquemas de corrupção para bancar campanhas eleitorais, garantir votos no Congresso, financiar regimes autoritários na América Latina e enriquecer a companheirada. Que é benevolente na aparência e vingativo na ação. Que sempre fala “Partido dos Trabalhadores” em privado e, charmosamente, como ele próprio definiu certa vez, volta e meia solta um “Partido dos Trabalhador”, para o assanhamento uspiano.
No livro Dicionário Lula — Um Presidente Exposto por Suas Próprias Palavras, lançado em 2009, Ali Kamel compila, organiza e analisa as falas do chefão petista. Lançado antes de Lula ter eleito Dilma Rousseff, uma das piores presidentes que o país já teve, e do início da operação Lava Jato, o livro merece uma reedição atualizada. Ali Kamel sintetiza o seu trabalho da seguinte forma: “O Lula que emerge destas páginas é um comunicador sem igual; um homem que vê o mundo a partir de sua experiência concreta de vida, de uma maneira que salta aos olhos; coerente, mas com incoerências importantes; um cidadão que preza os valores tradicionais da família e de Deus; um filho legítimo do capitalismo que almeja para os outros a mobilidade social que conseguiu para si (quando se tornou torneiro mecânico); um conciliador, cujo objetivo, ao menos no nível da retórica, é alcançar a harmonia entre os polos extremos da sociedade, tendo, para isso, como principal instrumento, políticas assistencialistas”. Numa eventual edição atualizada, seria necessário incluir que Lula é um cidadão que preza também outros valores, bem mais sonantes, para si e para a sua própria família.
O Piaget é eloquente.
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