Homofobia não é mimimi, mas demissão é
Nessa última semana, o jogador de vôlei Maurício Souza ganhou as manchetes dos jornais por ter se metido em uma confusão com o Super-Homem – filho do Clark Kent –, que é bissexual e foi visto beijando outro homem nas bancas de jornais. O atleta ficou passado com o que viu e escreveu...
Nessa última semana, o jogador de vôlei Maurício Souza ganhou as manchetes dos jornais por ter se metido em uma confusão com o Super-Homem – filho do Clark Kent –, que é bissexual e foi visto beijando outro homem nas bancas de jornais.
O atleta ficou passado com o que viu e escreveu comentários em suas redes dizendo coisas como: “Começa assim e vai ver onde vamos parar”. O time Minas Clube e as marcas que o patrocinam pediram que o jogador se desculpasse, e como não o fez devidamente, o demitiram.
A bissexualidade do Super-Homem não devia ser da conta nem do Clark Kent, pai do herói, quanto mais do Maurício do vôlei, que deve ter mais o que fazer do que se meter na vida pessoal dos personagens de histórias em quadrinhos.
O último que se dedicou com o mesmo afinco a essa luta foi Crivella, ex-prefeito do Rio de Janeiro, quando decidiu passar vergonha alheia na Bienal do Livro de 2019 e a todo custo buscou impedir a venda de gibis com dois super-heróis se beijando.
Os cariocas contam que, naquele dia, mais chocante do que a tentativa de censura foi terem se lembrado de que a cidade tinha um prefeito, fato que andava saborosamente esquecido.
Pois bem, caro leitor, a fala do tal Maurício do vôlei foi homofóbica. Homofobia não é opinião, muito menos mimimi. Falas homofóbicas e racistas merecem processo, punição, e não se passa pano a crimes.
Mas por que a pessoa precisa para além de tudo isso perder seu emprego?
Homofóbicos e racistas não devem trabalhar? Sem sequer terem sido julgados devem ser banidos, afastados da sociedade com um sininho metido ao pescoço, para que quando apareçam saiamos todos correndo, como se fazia com os leprosos na Idade Média?
Penso que não. Até porque quanto mais imediata a punição, mais imediato seu esquecimento.
Quando um ex-funcionário da TV Globo resolveu vazar um comentário infeliz de William Waack, feito fora do ar, o renomado jornalista virou alvo de linchamento nas redes e demitido sumariamente pela direção da emissora, depois obrigada a fazer um acordo extrajudicial. William é hoje o principal nome da CNN Brasil.
Seria mais útil que as empresas deixassem a justiça apurar o que tem de ser apurado e se preocupassem em educar seus funcionários, promovendo cursos de reciclagem, discussões em grupo, confecção de códigos de conduta que tratem verdadeiramente – e não só para inglês ver – de temas relacionados à diversidade.
E por que não fazem isso?
Porque é caro e leva tempo, caro leitor. Então lhes serve como uma luva o higiênico banimento. É rápido, fácil, e se amanhã o inimigo de hoje lhes for útil, que seja novamente bem-vindo, puxe uma cadeira e fique à vontade.
Não acredito em empresas que lacram, acredito em empresas que lucram.
Não acredito na sinceridade de empresas que promovem a igualdade, são amigas da natureza, parceiras da criança, atentas aos direitos humanos. Não acredito quando se arvoram a defender o que quer que seja que não seja o seu próprio lucro, pois ao fim e ao cabo será isso que as manterá de pé para que possam defender qualquer outra coisa.
E se não quisermos ser tolos, devemos cobrar, não das empresas, mas do judiciário a punição a crimes de homofobia e racismo e, do Estado, a promoção de políticas públicas. Deixemos que as empresas lucrem com seus produtos, não com a nossa carência.
André Marsiglia Santos é advogado constitucionalista e articulista. Atua com liberdades de expressão e de imprensa.
Twitter: @marsiglia_andre
LinkedIn: André Marsiglia Santos
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)