É preciso mostrar os dentes para Putin
A Ucrânia convocou os reservistas do seu Exército para lutar pelo país. Isso significa que todos os homens de 18 a 60 anos poderão virar bucha de canhão contra os russos, que cercam o território ucraniano com 190 mil soldados, ao sul, ao norte e ao leste. Ao mesmo tempo, o presidente Volodymyr Zelensky divulgou um pacote de incentivos fiscais para tentar estancar a sangria na economia, que encolhe a um ritmo de 3 bilhões de dólares por mês. O cenário é aterrador...
A Ucrânia convocou os reservistas do seu Exército para lutar pelo país. Isso significa que todos os homens de 18 a 60 anos poderão virar bucha de canhão contra os russos, que cercam o território ucraniano com 190 mil soldados, ao sul, ao norte e ao leste. Ao mesmo tempo, o presidente Volodymyr Zelensky divulgou um pacote de incentivos fiscais para tentar estancar a sangria na economia, que encolhe a um ritmo de 3 bilhões de dólares por mês. O cenário é aterrador.
O isolamento da Ucrânia ficou mais evidente depois das demonstrações de solidariedade do Ocidente. As sanções contra Moscou anunciadas ontem pelo claudicante Joe Biden e por seus aliados são pífias, quando comparadas ao tamanho da encrenca. Como é que um país que está para ser invadido militarmente pode ser defendido apenas por sanções econômicas que já foram precificadas pelo invasor? O que defende um país são soldados, tanques, aviões, mísseis. São aliados com músculos dispostos a vir a seu socorro. É disso que a Ucrânia precisa, para além das sanções econômicas impostas pelos ocidentais.
É preciso dobrar a aposta que Vladimir Putin (foto) está fazendo na Ucrânia e confrontá-lo com o risco de uma guerra contra a Otan desde já. Não tem jeito. A história ensina que agressores como ele não são controlados de outra forma que pela força. Sim, guerras têm um custo alto, em vidas e dinheiro, mas a disposição do autocrata russo de redefinir as fronteiras da Guerra Fria na Europa já está mais do que evidente. Pelo amor de Deus, o sujeito foi para a televisão dizer que a Ucrânia foi uma invenção de Vladimir Lenin e é governada por fantoches dos Estados Unidos. Cancelou a existência do país que se prepara para invadir, sem enrubescer. Como alguém pode achar que sanções econômicas serão capazes de detê-lo? Como achar que ele já não provocou uma situação insustentável?
O Ocidente já está pagando um preço alto — o do petróleo — pela agressão de Vladimir Putin e também por seu próprio excesso de cautelas diante do que ocorre na Ucrânia. E esse preço aumentará, acrescido de milhares de vidas perdidas e existências sacrificadas, se uma guerra no leste da Europa, entre uma Ucrânia invadida e uma Rússia livre para cometer brutalidades, estender-se por longo tempo. Urge mostrar os dentes para Vladimir Putin, a fim de evitar que isso ocorra. A Ucrânia não pertence à Otan, mas a sua integridade territorial é vital para a segurança da Europa. E negociar a sua soberania é inadmissível. Se alcançar o seu objetivo na Ucrânia, Vladimir Putin ficará ainda mais à vontade para exigir que as repúblicas bálticas, a Polônia, a Romênia e a Bulgária saiam da aliança militar ocidental — exigência que já vem sendo feita espantosamente pela Rússia, como se ela pudesse interferir nas decisões de outros países.
Vladimir Putin não está blefando no caso da Ucrânia, mas recuará se for enfrentado por um Ocidente decidido a lançar mão de seu poderio militar. Inclusive porque isso deverá aumentar a oposição a ele dentro da Rússia. O autocrata quer que haja veto permanente à entrada da Ucrânia na Otan? Exija-se com firmeza, então, que a Rússia saia da Crimeia e abra mão da sua base naval em Sebastopol. É preciso ser duro com valentões como Vladimir Putin. Não se deve perder de vista que, se as regras da aliança ocidental forem respeitadas à risca, a Ucrânia já está impedida de ingressar na Otan, uma vez que enfrenta um conflito com outro país. Somente nações sem disputas militares em curso podem ser admitidas na organização de caráter defensivo. Defensivo, repetindo. Ou seja, como a exigência russa já foi satisfeita na prática desde a invasão da Crimeia e o início das hostilidades em Donbas, há quase uma década, não faz o menor sentido Vladimir Putin usar do pretexto de uma possível entrada da Ucrânia na Otan para ocupar o país vizinho ou parte dele. A Alemanha e a Polônia vinham usando as regras da aliança ocidental nos últimos anos, para impedir o ingresso de Kiev na Otan.
Se a agressão do autocrata russo sair barato outra vez, como em 2014, quando invadiu a Crimeia, a história se repetirá mais adiante. Os Estados Unidos e a Otan estarão apenas adiando um problema que ressurgirá maior.
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