Tratar política como torcida do BBB é um luxo caríssimo. Só essa semana, a fatura para a sociedade brasileira veio na casa dos bilhões. Talvez viesse de qualquer jeito, o fato é que veio sem desgaste político à altura.
A Câmara dos Deputados aprovou a volta do DPVAT. Não é só a cobrança do seguro que volta, tem alguns outros detalhes. Agora ele será administrado exclusivamente pela Caixa Econômica Federal, um ponto polêmico. Além disso, um percentual gordo vai para o transporte público de estados e municípios, não para o prêmio dos segurados.
Dentro do projeto veio o que os políticos chamam de jabuti, como referência ao dito popular do jabuti encontrado num galho de árvore. É um artigo que permite o aumento dos gastos este ano em cerca de R$ 15 bilhões.
Se o país todo estivesse voltado para as votações no plenário e cobrando os parlamentares, como fazíamos anos atrás, a coisa teria sido tão tranquila para o governo? Claro que não.
Ocorre que os políticos já aprenderam a manipular as pessoas que se interessam por política. Por mais importante que um tema seja, há determinados tipos de discussão que viram a cortina de fumaça perfeita para mandar mais imposto na sua conta.
Quando isso acontece? Independe do tema, mas da forma como é tratado por políticos e influencers ligados a ele. Repare nos seguintes métodos:
Achar um grande vilão e um grande herói;
Usar hipérboles ao falar do tema;
Uso de catastrofismo, inferindo que seja a coisa mais grave que já ocorreu;
Apelo ao heroísmo, à necessidade de atitude heroica do cidadão comum ou apoio a um herói para solucionar;
Apelo de urgência, à semelhança de um golpista do pix, exigindo que as pessoas se posicionem ou pressionem as outra imediatamente, antes que esse vídeo suma, antes que seja tarde demais;
Ataques a quem não aderir cegamente ao herói e condenar o vilão ao inferno para toda eternidade;
Distorção daquilo que é dito por quem faz qualquer tipo de questionamento, se questiona A é porque apóia B.
Você vê isso muito. Os políticos também. O povo tem usado isso como entretenimento, válvula de escape e lei do mínimo esforço para participação política. Se for sério, dá trabalho e é meio chato. Mas os políticos estão de olho em outra coisa, poder.
Quando vêem um tema ser tratado assim e dominar corações e mentes, já preparam o pacote de maldades que vai pesar no seu bolso. Quando estão em maus lençóis devido ao que fizeram, já começam a tratar algum tema polêmico dessa forma para manipular as pessoas.
O universo digital tornou esse processo mais fácil para os políticos e mais difícil para o cidadão. Ocorre que as pessoas começam a aprender e perceber como funciona. Falta só terem a disciplina para tratar a política como o que é, não como circo.