Crusoé: Por que não vai ter golpe na Coreia do Sul
Democracias ricas são mais resilientes do que se pensa. Além disso, Forças Armadas são próximas dos Estados Unidos e imprensa é muito forte
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, declarou lei marcial no país nesta terça, 3.
Todas as atividades políticas, como greves, protestos e sessões da Assembleia Nacional, foram proibidas.
Apesar do susto e das cenas de confronto no Parlamento (foto), não vai ter golpe na Coreia do Sul.
O Parlamento votou um decreto ordenando a anulação da lei marcial.
O presidente Yoon Suk-yeol anunciou que acatará a decisão do Legislativo.
Motivos para não ter golpe
O primeiro motivo é que a Coreia do Sul é um país democrático e rico.
Há várias elites empresariais com influência no governo. Seria impossível que um único grupo tomasse conta do poder, subjugando todos os outros.
Além disso, a Coreia do Sul tem uma longa tradição democrática.
A última ditadura acabou em 1979. Desde então, o paí tem tido eleições ininterruptas.
Segundo os cientistas políticos que estudam o assunto, países ricos e com eleições seguidas, em que é impossível prever o vencedor, conseguem preservar suas democracias.
“A literatura científica mostra que quando os países conseguem ter mais de três episódios eleitorais competitivos, legítimos, incertos, a probabilidade de quebra democrática é próximo de zero“, disse a Crusoé em junho deste ano Carlos Pereira, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e autor do livro Por que a democracia brasileira não morreu?.
“De acordo com estudos empíricos, países que têm PIB per capita acima de 5 mil dólares não quebram. Não se sabe como ocorre esse mecanismo, mas não há uma causalidade, mas uma realidade empírica. Há um casamento muito estável entre capitalismo e democracia, quando o capitalismo consegue gerar crescimento. Democracias normalmente quebram quando os países são muito pobres e quando as elites predatórias se perpetuam no poder, sem integrar a grande massa da população“, afirmou Pereira em entrevista.
O PIB per capita da Coreia do Sul é de 33 mil dólares.
Presidente isolado
Yoon não conseguiu apoio para a sua tentativa de golpe dentro do seu partido, nem dentro de seu governo.
Decretar uma lei marcial foi uma decisão solitária.
As Forças Armadas devem obediência ao presidente, e por isso tentaram bloquear o Parlamento.
Mas, como se viu, a ação não foi bem-sucedida, tanto que 190 parlamentares conseguiram votar se a lei marcial deveria ou não ser aplicada.
As Forças Armadas da Coreia do Sul ainda têm uma relação umbilical com os americanos.
Há vários soldados americanos em bases na Coreia do Sul…
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