Crescendo (e encolhendo) na tragédia
Esta é uma análise puramente política, feita no limite do que se pode dizer sobre o irrelevante em meio a uma tragédia. Enquanto os gaúchos contam seus mortos, buscam desaparecidos e calculam as...
Esta é uma análise puramente política, feita no limite do que se pode dizer sobre o irrelevante em meio a uma tragédia. Enquanto os gaúchos contam seus mortos, buscam desaparecidos e calculam os prejuízos causados pelo ciclone extratropical que arrasou cidades no Rio Grande do Sul, Lula fala na cúpula do G20 sobre “igualdade de gênero, combate à desigualdade e contra o racismo”, como descreve a alegre primeira-dama Janja em mais um animado post nas redes sociais. Talvez a distância entre o mundo real e o imaginário progressista não soasse tão abissal se o presidente tivesse passado em ao menos um dos municípios atingidos pelas chuvas antes de partir para a Índia.
A ausência de Lula pode ter sido fruto de contratempos. O presidente não tem mais idade — e parece não ter mais também muita disposição — para imprevistos. A mensagem que fica, contudo, é que o governo federal mandou para o Rio Grande do Sul quem de fato tem algo a ganhar politicamente por lá, como o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta.
É muito diferente do que ocorreu em fevereiro, quando Lula fez questão de posar ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em São Sebastião (SP), também por ocasião de uma tragédia provocada por chuvas. “É até uma fotografia boa para o nosso país”, disse o petista à época, chamando o governador e o prefeito da cidade, o tucano Felipe Augusto, para o registro histórico.
Não houve fotografia boa para o nosso país desta vez, e os gaúchos têm motivos para imaginar que se trata de um problema pessoal com eles, que não contribuíram tanto para a eleição de Lula. É assim a política. Neste desastre climático, coube ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (foto, na cidade de Roca Sales), o gesto de grandeza, que costuma ser também o gesto mais devastador para os adversários políticos.
Questionado sobre a ausência de Lula, Leite deixou passar a oportunidade de crítica. “Eu vou me abster de comentar a ausência do presidente, porque não me interessa qualquer tipo de conflito político neste momento de união de esforços”, disse o tucano. “Eu entendo que, no momento que o presidente tivesse a disponibilidade de vir pra cá, não se tivesse ainda a dimensão do tamanho do problema que estamos enfrentando aqui“, completou.
Para Leite, “o que importa agora é que haja disposição de trabalharmos juntos pelo processo de reconstrução”. É verdade e também é o politicamente correto a se dizer. Os detratores do governador dirão que seu discurso é fruto de um calculo político, assim como os detratores de Lula fizeram por ocasião de sua foto ao lado de Tarcísio em São Sebastião. Tanto faz. É assim a política.
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