Com Aras, o espírito do Centrão encarnou na PGR
Não parecem muito boas as chances de Augusto Aras conquistar um terceiro mandato à frente da Procuradoria Geral da República (PGR). Apesar de ter colaborado ativamente com o desmonte da Lava Jato, o que agrada os petistas...
Não parecem muito boas as chances de Augusto Aras conquistar um terceiro mandato à frente da Procuradoria Geral da República (PGR). Apesar de ter colaborado ativamente com o desmonte da Lava Jato, o que agrada os petistas, ele também carrega a fama de ter protegido Jair Bolsonaro, o que incomoda Lula, a quem compete a indicação. Assim como fez com Cristiano Zanin no STF, o presidente quer levar à PGR alguém em quem confie plenamente e que não venha a surpreendê-lo.
Ainda que Aras não seja reconduzido ao cargo, existe o risco de que alguém com a mesma mentalidade seja escolhido. E eu me refiro aqui a algo mais do que prontidão para blindar o presidente diante de acusações. Aras comandou a PGR com o espírito de um político do Centrão escalado para presidir a Comissão de Ética da Câmara. Ele até mesmo procurou emascular os órgãos que podem incomodar políticos no Brasil, usando à farta o dispositivo das “investigações preliminares”. Lembremos que o procurador geral detém com exclusividade o poder de processar deputados, senadores e o presidente da República por crimes comuns.
Aras revelou sua filosofia em um artigo publicado quando fazia campanha para o segundo mandato. Segundo ele, o PGR não deve buscar protagonismo “no dia a dia da retórica política”, o que está certo. Mas Aras também sustenta que o ocupante do cargo deve agir com “sobriedade” num país “em que todas as cordas estão esticadas”, o que é um jeitinho malando de justificar uma atitude leniente políticos. Repito o que escrevi tempos atrás sobre esse assunto: essa preocupação com “cordas esticadas” é puramente política. Não há nada na Constituição ou no Código Penal dizendo que essa deve ser uma preocupação do Ministério Público.
Além da teoria das cordas esticadas, Aras adotou uma interpretação muito peculiar das investigações preliminares, que lhe permitiu inclusive tentar invalidar o trabalho da PF. Também já escrevi sobre isso: ao lançar mão de investigações preliminares para jogar no lixo trabalho já feito por policiais, Aras não procurou agilizar procedimentos ou economizar recursos do Estado, pelo contrário: quis apenas concentrar informações nas mãos da PGR, falar sem contraponto e controlar a “narrativa” sobre os fatos políticos.
Não basta que Augusto Aras deixe a PGR. É preciso que ele não faça um herdeiro. Infelizmente, mais conveniente para um presidente da República do que uma PGR que encarna o espírito do Centrão, só mesmo uma PGR ocupada por um fiel companheiro. As perspectivas não são nada boas.
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