Claudio Castro não tem do que se gabar
Entre os pecados da política, apropriar-se do mérito alheio não chega a ser um dos mais graves. Há quem sem aproprie de dinheiro público... Mesmo assim, não gosto quando um político medíocre, como o governador do Rio Claudio Castro, tenta se beneficiar daquilo que não fez...
Entre os pecados da política, apropriar-se do mérito alheio não chega a ser um dos mais graves. Há quem se aproprie do dinheiro público… Mesmo assim, não gosto quando um político medíocre, como o governador do Rio Claudio Castro (foto), tenta se beneficiar daquilo que não fez. Castro, aliás, teve seus sigilos bancário e telefônico quebrados recentemente pela Justiça – o que sugere que talvez cometa pecados também daquele tipo mais grave. Não há por que deixar que ele se gabe da prisão do miliciano Zinho.
Zinho se entregou à Polícia Federal no domingo, 24, véspera de Natal, depois de vários dias de negociação. Por que a Polícia Federal e não a do Rio de Janeiro? Porque ele tinha medo de ser assassinado caso caísse nas mãos de uma corporação sabidamente comprometida pela corrupção e por vínculos com o crime organizado.
Digamos de outra maneira: o miliciano com 12 mandados de prisão em aberto queria se entregar para não morrer nas mãos de outros bandidos. Mas evitou a força comandada pelo governador Cláudio Castro, por medo de morrer nas mãos de policiais.
Antes que algum justiceiro diga que bandido bom é bandido morto e desovado num lixão, lembro que Zinho é aquele tipo de gângster que vale muito quando fala o que sabe. Por muitos anos, antes de assumir a chefia da milícia que controla toda a Zona Oeste do Rio, ele foi responsável pelas finanças do grupo – um contador do crime.
Para quem está interessado em desbaratar as estruturas e as finanças do crime organizado, em vez de apenas aplicar a justiça arcaica do “olho por olho, dente por dente”, uma prisão como essa é importante.
Sem falar, é claro, no fato de que qualquer força armada só joga do lado da civilização quando segue regras – caso contrário, se iguala aos bandidos e depois de algum tempo acaba se tornando tão perigosa quanto eles. Foi isso que aconteceu no Rio de Janeiro ao longo das últimas cinco décadas.
E aqui volto a Claudio Castro. Pouco depois da prisão de Zinho, ainda no dia 24, ele usou a primeira pessoa do plural para comemorar: “Essa é mais que uma vitória das polícias e do plano de segurança, mas da sociedade. A desarticulação desses grupos criminosos com prisões, apreensões e bloqueio financeiro e a detenção desse mafioso provam que estamos no caminho certo.”
Não, a prisão não foi mérito de qualquer “plano de segurança” que Castro tenha posto de pé. E certamente não foi mérito de uma polícia temida por boa parte da população honesta do Rio de Janeiro, que Castro não tem pulso nem autoridade para comandar (inclusive devido às suspeitas que pesam sobre ele mesmo e o seu entorno).
Por medo, Zinho decidiu se entregar. Por medo, escolheu a PF. São vários os caminhos possíveis a partir daí. Ele pode ser substituído por outro miliciano. Ou o território da milícia que ele comandava pode ser tomado por traficantes. Infelizmente, essas são as alternativas que parecem mais prováveis no curto prazo. Só haverá ganho de fato se a prisão do antigo contador do crime trouxer informações que ajudem no combate às máfias que mandam e desmandam no Rio de Janeiro.
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