Casemiro sempre jogou como craque, mesmo quando ainda não era
O melhor jogador do Brasil na primeira fase da Copa do Mundo do Catar quase foi queimado no início da carreira. O volante surgiu na base do São Paulo como joia promissora e, como ocorre nos debilitados clubes brasileiros, subiu apressadamente para o profissional. Com 18 anos, em 2010, recebeu a missão de resolver os problemas de um time que nunca mais soube proteger propriamente seu meio-campo. Casemiro não conseguiu, virou vilão para uma torcida muito exigente e, apenas três anos depois de...
O melhor jogador do Brasil na primeira fase da Copa do Mundo do Catar quase foi queimado no início da carreira. O volante surgiu na base do São Paulo como joia promissora e, como ocorre nos debilitados clubes brasileiros, subiu apressadamente para o profissional. Com 18 anos, em 2010, recebeu a missão de resolver os problemas de um time que nunca mais soube proteger propriamente seu meio de campo. Casemiro não conseguiu, virou vilão para uma torcida muito exigente e, apenas três anos depois de estrear como profissional, saiu do clube desprestigiado, para o time B do Real Madrid.
Para os críticos, o volante, que foi criado apenas pela mãe, era mascarado — quer dizer, tinha bem menos qualidade do que imaginava e não se esforçava o bastante. O nível de excelência atingido hoje por Casemiro prova que a crítica era injusta. O dono do meio de campo da seleção brasileira estava certo sobre a própria capacidade, só não tinha atingido seu potencial plenamente. O problema é que Casemiro sempre jogou como craque, mesmo quando ainda não era. Para um jogador de defesa, cujo erro pode valer um gol contra, isso é fatal.
O jogador subiu para o profissional disputando posição com o veterano Rodrigo Souto, numa região dominada pouco antes por uma dupla que se tornou histórica no São Paulo: Mineiro e Josué. Seu futebol arrojado animou os são-paulinos, mas os erros em saídas de bola de um jogador confiante demais para a idade enervaram a torcida e o transformaram no bode expiatório de um clube que pouco ganhou desde então. Os comentários no São Paulo davam conta de que ele não se dedicava o bastante aos treinos, pois tinha se iludido com convocações para a seleção.
O rumo de sua carreia provou que as impressões estavam corretas. Frequentar a equipe menos prestigiada do Real Madrid e jogar no Porto, de Portugal, permitiu a Casemiro desenvolver o que faltava para se tornar um “aspirador” no meio de campo da seleção brasileira. A definição é de Filipe Luís, lateral-esquerdo do Flamengo. Segundo ele, Casemiro “está sempre limpando a sujeira do campo”. “Onde tem um problema, ele está ali”, resumiu Filipe.
Casemiro percorreu 11,3 km na partida de estreia do Brasil na Copa do Catar, contra a Sérvia. Apesar de Richarlison ter se destacado, com os dois gols da vitória, o volante foi o jogador brasileiro que mais se movimentou em campo, como de costume. No jogo seguinte, além de garantir que os zagueiros e o goleiro brasileiros mal precisassem trabalhar, marcou o gol que garantiu a vitória contra a retrancada Suíça. Aliada ao vigor, sua capacidade de antecipar movimentos no gramado e estar sempre no lugar certo levou o treinador do Real Madrid, Carlo Ancelotti, a apelidá-lo de bombeiro.
Foi com Ancelotti que Casemiro se consolidou como parte da história do maior clube do mundo, com impressionantes cinco títulos da Champions League, quatro como titular. Foram 18 títulos em oito temporadas por lá. Em agosto, o brasileiro trocou o maior time espanhol pelo maior time inglês, o Manchester United — que não vai tão bem em campo quanto os merengues há algum tempo. A transação de 70,7 milhões de euros está entre as 10 mais caras da história do clube. Em outubro, o brasileiro foi eleito o melhor jogador do mês na Premier League.
Depois da derrota do time reserva do Brasil para Camarões por 1×0, ficou ainda mais evidente a falta de um aspirador como Casemiro, que hoje disputa o posto de melhor volante do mundo com o francês N’golo Kanté e o alemão Joshua Kimmich. Além de levar o gol, o goleiro Ederson foi forçado a fazer duas defesas na partida — o titular, Alisson, não precisou fazer nenhuma nos dois primeiros jogos do Brasil na Copa. Quatro anos atrás, na Copa da Rússia, Casemiro estava suspenso e não jogou a partida em que a Bélgica eliminou o Brasil.
Se a seleção brasileira enfim conseguir o hexacampeonato neste ano, certamente o mérito passará por Casemiro. Nem os são-paulinos ousam duvidar disso.
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