Bolsonaristas querem mandar prender o papagaio do Agamenon
Um certo Instituto Nacional de Advocacia, com sede na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, divulgou muito institucionalmente no Instagram que apresentou pitoresca notícia-crime à Procuradoria-Geral da República contra O Antagonista. O motivo é o texto mais recente do Agamenon, aquele personagem fictício, criado pela turma do Casseta & Planeta, que assinava artigos de humor em O Globo e agora os publica neste site. Recebi pelo WhatsApp uma cópia da peça jurídica de extraordinário sucesso entre os bolsonaristas nas redes sociais, habitat preferencial dessa gente...
Um certo Instituto Nacional de Advocacia, com sede na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, divulgou muito institucionalmente no Instagram que apresentou pitoresca notícia-crime à Procuradoria-Geral da República contra O Antagonista. O motivo é o texto mais recente do Agamenon, aquele personagem fictício, criado por integrantes do Casseta & Planeta, que assinava artigos de humor em O Globo e agora os publica neste site. Recebi pelo WhatsApp uma cópia da peça jurídica de extraordinário sucesso entre os bolsonaristas nas redes sociais, habitat preferencial dessa gente. Arrisco dizer que o Agamenon ganhou concorrente à altura.
Os senhores advogados Rodrigo Salgado Martins e Pierre Lourenço, este último provavelmente filho de francófilos, não gostaram da seguinte piada do Agamenon: “Alguns países como o Haiti, por exemplo, são mais desenvolvidos que o Brasil. Ainda não chegamos nesse nível de engajamento político e vamos ter que esperar as urnas eletrônicas em 2022 para cancelar o CPF do presidente“.
Você pode torcer o nariz ou qualquer outra parte aparente do seu corpo para piadas. Ninguém é obrigado a rir delas. Mas os ilustres representantes do Instituto sediado na Barra da Tijuca, coincidentemente o mesmo bairro onde mora Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, contorceram o cérebro em relação ao humor do Agamenon. Eles dizem na apresentação da notícia-crime que a “matéria jornalística, a nosso juízo, instiga a tentativa de assassinato do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro”.
Espero não magoar o Agamenon, mas me diverti mais com a leitura da peça jurídica postada no Instagram do que com o artigo do cronista de humor do Casseta & Planeta. Há motivos: os seus autores afirmam que “a matéria usa de silogismo para defender o assassinato do Presidente da República se valendo do fato do recente assassinato do Presidente do Haiti, Sr. Jovenal Moise, morto a tiros no dia 07 de julho de 2021, ao passo que traz implicitamente o assassinato do presidente haitiano atribuindo este fato como um desenvolvimento que o Brasil deveria alcançar”.
Eu ri, mas na verdade deveria chorar. Falta de escola dá nisso: nota zero em interpretação de texto. Já não ensinam mais o que é “ironia” nas escolas, e como ela é um dos recursos básicos do humor. Pergunto aos meus zíperes se os insignes advogados acreditam que dá para colocar cinco elefantes dentro de um fusca, bastando para isso que dois se sentem nos bancos da frente e três no banco de trás. Por precaução, adianto que não dá.
A dupla dinâmica acha “estarrecedor o fato de um jornal fazer apologia do assassinato do Presidente da República, ainda mais quando estamos prestes a completar três anos de tentativa de assassinato do Presidente Jair Bolsonaro que covardemente foi esfaqueado por um ex-militante do PSOL e tem por inimigos toda a classe de criminosos do país”. Só para deixar claro: o Agamenon não estava em Juiz de Fora no momento do atentado. Estava dormindo no seu Dodge Dart enferrujado, no Rio de Janeiro, que lhe serve de moradia desde que ficou desempregado. E os jornalistas de O Antagonista estavam cobrindo o fato em tempo real, desde sempre condenando o crime e cobrando o esclarecimento do atentado, mas ao que parece a internet havia caído no Instituto Nacional de Advocacia.
Os ilustres advogados não só acusam o Agamenon de incitar ao assassinato de Jair Bolsonaro, como querem enquadrá-lo na Lei de Segurança Nacional, assim como todos os responsáveis pela publicação da “matéria”. Usam para efeito de comparação o caso do deputado Daniel Silveira, que foi preso por ofender e ameaçar seriamente os integrantes do Supremo Tribunal Federal. Os autores da peça jurídica consideram que “é muito mais grave o fato de um veículo de comunicação com milhões de acesso mensal (sic) instigar a população brasileira a praticar o crime de homicídio contra o Presidente da República”, e por isso querem “a prisão preventiva de todos que viabilizaram a publicação da matéria”.
Vou proibir o Agamenon de contar a última do papagaio, porque os bolsonaristas vão querer mandar prender também o papagaio.
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