As lições ao governo após a aprovação do novo arcabouço fiscal
No futebol, “treino é treino, jogo é jogo”. Na política, o raciocínio é semelhante. Desde fevereiro, a articulação do governo Lula tenta...
No futebol, “treino é treino, jogo é jogo”. Na política, o raciocínio é semelhante. Desde fevereiro, a articulação do governo Lula tenta obter alguns sinais, principalmente da Câmara, sobre a sua real base de apoio junto aos deputados. E somente agora, com a aprovação do novo marco fiscal, o Palácio do Planalto tem alguma ideia (embora turva) do que esperar, ou não, de sua base parlamentar.
Lula falha miseravelmente na articulação política porque tenta adotar táticas velhas e manjadas para um jogo completamente diferente. Ao entregar três ministérios para União Brasil e MDB, por exemplo, acreditava que conseguiria manter uma base coesa no Congresso. Não conseguiu. E a votação do novo marco fiscal é exatamente uma prova disso.
Ao se ter 372 votos favoráveis ao texto do governo, qualquer neófito político poderia dar todos os méritos ao ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, ou ao ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Ledo engano. Se existem vencedores na aprovação dessa matéria, eles atendem pelos nomes de Fernando Haddad (ministro da Economia), Arthur Lira (presidente da Câmara) e Cláudio Cajado (relator do texto na Câmara).
Explica-se. Costa e Padilha mais atrapalharam que ajudaram nesse processo. Foi de Costa a ideia estapafúrdia de tentar acabar com o marco do saneamento via decreto (ato que levou ao governo Lula a sua primeira derrota junto aos deputados) e é de Padilha a ideia de “jênio” (sim, com j mesmo) de se tentar articular uma base parlamentar na Câmara por meio de interlocutores do Senado. Qualquer estagiário do Congresso Nacional sabe que deputados e senadores vivem às turras pleiteando protagonismo e que dificilmente se submetem uns aos caprichos dos outros.
A lista de votação sobre o novo marco fiscal, de fato, trouxe algumas lições importantes. Talvez a maior delas: o Congresso não vai se submeter aos caprichos do Planalto. Nem mesmo o Psol, aliado de primeira ordem do governo Lula, abandonou sua agenda ideológica em prol de um apoio cego ao governo Lula; uma ala do PL, cerca de 30 deputados (como já registrei outras vezes neste site), vai querer se aproximar do Planalto e tende a ser fiel a Lula — com o aval de Valdemar Costa Neto —, dependendo das benesses distribuídas pelo Poder Executivo e o União Brasil somente votará unido quando a pauta for de interesse do próprio partido.
Sempre se falou que Lula é um hábil articulador político. Mas, com um Congresso com esse nível de independência – obtido desde a gestão Eduardo Cunha –, é que saberemos se essa habilidade de fato existe ou é mais uma daquelas fake news propaladas pelo PT, que setores da imprensa reproduzem de forma cega. Parafraseando um certo narrador de futebol: é nos momentos de dificuldades que sabemos a diferença entre os meninos e os homens. E, neste momento, Lula é apenas um menino diante dos homens do Congresso.
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