As convicções de massinha de João Doria
Um dos personagens mais curiosos da política brasileira é o governador de São Paulo, João Doria. Curioso do ponto de vista antropológico, porque as convicções de João Doria são de massinha como as de nenhum outro político da sua magnitude, nesta terra de Macunaímas: moldam-se às circunstâncias, sem esperar que as circunstâncias se moldem a elas. Entende-se. O governador de São Paulo não tem tempo a perder, segue à risca o slogan de acelerar sempre...
Um dos personagens mais curiosos da política brasileira é o governador de São Paulo, João Doria. Curioso do ponto de vista antropológico, porque as convicções de João Doria são de massinha como as de nenhum outro político da sua magnitude, nesta terra de Macunaímas: moldam-se às circunstâncias, sem esperar que as circunstâncias se moldem a elas. Entende-se. O governador de São Paulo não tem tempo a perder, segue à risca o slogan de acelerar sempre.
Depois de se reunir com Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro, em São Paulo, na casa do dono da revista Istoé, João Doria adaptou o seu discurso ao que já lhe vinham aconselhando no seu entorno: mostrar-se mais colaborativo com a Terceira Via e menos peremptório em afirmar que será candidato a presidente de qualquer forma, caso vença as prévias do PSDB. Num programa da revista Veja (Doria é um revisteiro apaixonado), o governador de São Paulo afirmou que a Terceira Via não pode chegar “fracionada” às eleições de 2022, ao ser perguntado se abriria mão da sua eventual candidatura, em prol de Mandetta ou Moro. A resposta dele foi a seguinte:
“Sou um patriota acima de tudo. Não estou na política por um projeto pessoal. Se ficarmos fracionados, não teremos uma terceira via. Teremos Lula ou Bolsonaro sucedendo a esse governo, o que seria um desastre. Se tivermos mais um governo poppulista o Brasil não vai resistir.”
Na realidade, digamos que o patriotismo de João Doria é um projeto pessoal. Personalíssimo, aliás. Ele ficou evidente quando o patriota usou as suas convicções de massinha, para dar um passa-moleque em Geraldo Alckmin, a criatura voltando-se contra o criador, e se atrelar a Jair Bolsonaro, para conseguir ser eleito para o Palácio dos Bandeirantes, em 2018. Não demorou a que o Doria rompesse com o Bolso (aquele com maiúscula) e se tornasse o melhor inimigo do presidente da República. E agora estamos aqui, todos nessa generosa Terceira Via, na qual sempre cabe mais um, mesmo que à custa de cotoveladas.
O patriota pessoal acusa os seus adversários no PSDB de terem pautas bolsonaristas, esquecendo-se, ele próprio, do verão passado eleitoral. Na mesma entrevista, João Doria lamentou, ao que parece desinteressadamente, que os deputados federais tucanos que não estão com ele, mas com Eduardo Leite, o seu adversário nas prévias, votam sempre com o governo, como no caso do voto impresso, e ele fica “triste” com isso. “Queria ter um partido que tivesse um sentimento melhor. A votação do voto impresso não era pelo voto impresso, era contra a democracia”, disse João Doria.
Mesmo compungido, mas cheio de sentimentos, os melhores, ele garantiu que, se Eduardo Leite vencer as prévias do PSDB e conseguir ser o candidato da Terceira Via, o apoiará, sim, senhor. “Não há a menor possibilidade de eu sair do PSDB nem de apoiar outra candidatura que não seja do PSDB ou a candidatura que puder engrandecer a Terceira Via“, afirmou.
O problema é que as convicções do patriota pessoal João Doria são de massinha.
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