O cancelamento de Sérgio Sacani é emblemático para o cenário político atual. Mostra como a dinâmica de linchamento virtual se tornou ridícula, com analistas e influenciadores que se dedicam a destruir qualquer um que critique seu político de estimação. Sacani, geofísico e divulgador científico que raramente fala sobre política, foi acusado de ser da extrema-direita após corrigir informações erradas dadas por Lula e pela Agência Espacial Brasileira (AEB). Mesmo a AEB corrigindo a postagem, os adoradores de Lula continuaram a defender o erro e atacar o mensageiro.
No meio do escândalo, influenciadores famosos e respeitados no debate público se juntaram ao ataque. Não estamos falando de perfis anônimos, mas de pessoas que são ouvidas na sociedade. A participação sistemática dessas figuras em linchamentos virtuais mostra que método é uma estratégia política organizada para ganhar militância na era digital.
O caso de Sacani ilustra bem essa situação. Ele fez correções factuais, mas as hordas de linchadores distorceram suas palavras e atacaram sua reputação. Ele não foi atacado pelo que disse, mas por incomodar o poderoso. Inventaram que ele é fascista, um rótulo usado para deslegitimar e perseguir críticos.
Sacani corrigiu a declaração de Lula sobre milionários quererem buscar um novo planeta para fugir dos trabalhadores. É o enredo da comédia “Não Olhe para Cima”, de 2021, mas não guarda relação com a realidade da indústria espacial, suas empresas e agências.
Logo depois, questionou o erro factual da Agência Espacial Brasileira em um post comemorativo dos 61 anos da viagem da primeira mulher ao espaço, Valentina Tereshkova. Em vez de usar uma foto ou vídeo dela, fizeram uma arte de uma mulher negra. Militantes atacaram dizendo que, na verdade, a imagem da mulher negra representa a astronauta negra que irá à Lua no projeto Artemis. O projeto não vai pousar na Lula e não há uma mulher negra na tripulação, há uma mulher e um negro. Diversas astronautas negras já foram ao espaço e merecem homenagens, ocorre que a homenageada é branca.
Logo que os influencers miram em alguém e rotulam como racista e extrema-direita, de forma concertada, uma horda se junta a eles. Esses ataques mostram uma falta de controle emocional e precariedade cognitiva de quem participa. A estratégia é fazer com que seguidores menos inteligentes se sintam incluídos, não questionem e sigam cegamente. O problema não está no conteúdo do que é dito, mas no contexto e na organização dessas tropas digitais. Todos os partidos organizam suas milícias digitais, e precisamos estabelecer limites éticos e morais para essas ações.
A questão central é até quando continuaremos levando a sério pessoas que participam de linchamentos virtuais. Precisamos defender o diálogo democrático e criticar esses comportamentos de matilha, que são antidemocráticos. Esses linchadores muitas vezes vocalizam ideias que já estão por aí, por isso acabam sendo aceitos: falam o que as pessoas querem ouvir. Vale a pena?