A realidade da Ucrânia e a paralela dos asnos A realidade da Ucrânia e a paralela dos asnos
O Antagonista

A realidade da Ucrânia e a paralela dos asnos

avatar
Mario Sabino
5 minutos de leitura 28.02.2022 17:55 comentários
Opinião

A realidade da Ucrânia e a paralela dos asnos

Asnos brasileiros dizem que não está ocorrendo uma guerra na Ucrânia, porque a ofensiva russa é "cirúrgica" -- não atinge alvos civis -- e que não morreram ucranianos o suficiente para definir o conflito como guerra. Esses mesmos asnos afirmam que a Otan -- uma aliança militar defensiva -- representa uma ameaça à Rússia e, por isso, Vladimir Putin teria motivo para invadir a Ucrânia, que queria entrar na aliança militar do Ocidente. Compram pelo valor de face o pretexto do tirano russo. Na verdade, os ucranianos desejavam ingressar na Otan, para defender-se da Rússia, não para atacá-la, enquanto a Rússia não queria a Ucrânia na Otan, para poder atacá-la, não por medo de ser atacada, como já deveria estar evidente. São tantas ideias de jerico sobre uma realidade paralela, que nem vale a pena se estender sobre elas. Fica o registro breve das asneiras...

avatar
Mario Sabino
5 minutos de leitura 28.02.2022 17:55 comentários 0
A realidade da Ucrânia e a paralela dos asnos
Foto: Gerd Altmann/Pixabay

Asnos brasileiros dizem que não está ocorrendo uma guerra na Ucrânia, porque a ofensiva russa é “cirúrgica” — não atinge alvos civis — e que não morreram ucranianos o suficiente para definir o conflito como guerra. Esses mesmos asnos afirmam que a Otan — uma aliança militar defensiva — representa uma ameaça à Rússia e, por isso, Vladimir Putin teria motivo para invadir a Ucrânia, que queria entrar na Otan. Compram pelo valor de face o pretexto do tirano russo. Na verdade, os ucranianos desejavam ingressar na aliança, para defender-se da Rússia, não para atacá-la, enquanto a Rússia não queria a Ucrânia na Otan, para poder atacá-la, não por medo de ser atacada, como já deveria estar evidente. São tantas ideias de jerico sobre uma realidade paralela, que nem vale a pena se estender sobre elas. Fica o registro breve das asneiras.

O fato é que a Ucrânia está há cinco dias enfrentando a invasão de um dos exércitos mais poderosos do planeta, ordenada por um tirano sanguinário, corrupto e cuja visão geopolítica remonta a 1945, o que por si só justifica a existência da Otan. Como o seu plano não está saindo como esperado, ele ameaça destruir com armas atômicas quem se lhe opõe — a Rússia acumula a maior quantidade de ogivas, mais de 6 mil. Vladimir Putin também ocupou Belarus, vizinha à Ucrânia e governada por um vassalo seu, Alexandr Lukashenko, que mudou a Constituição do país, para permitir que os russos pudessem instalar mísseis nucleares no seu território. Belarus é uma das bases da ofensiva contra a Ucrânia.

A primeira reunião entre representantes de Ucrânia e Rússia, portanto, foi mediada por um inimigo dos ucranianos. Por esse motivo, o presidente Volodyimyr Zelinsky não queria saber de Belarus na negociação. Ele decidiu topar a mediação, depois da ameaça nuclear de Vladimir Putin. Nessa primeira reunião, os russos afirmaram que só aceitam retirar as suas tropas do país vizinho, se Kiev reconhecer que a Crimeia, invadida em 2014, é da Rússia e se a Ucrânia aceitar se tornar uma nação desmilitarizada. Os ucranianos, por sua vez, exigem um cessar-fogo imediato e a saída das tropas russas do seu país, para início de conversa.

O cessar-fogo é condição mínima, se é que a negociação é mesmo para valer. Neste momento, as tropas russas avançam sobre Kiev e Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, onde a população civil está sendo brutalmente atacada. A tomada de ambas colocará o governo de Volodymyr Zelenski em ainda maior desvantagem na mesa de negociações. O presidente da França, Emmanuel Macron, que também preside o Conselho da Europa, pediu hoje a Vladimir Putin, em conversa telefônica de uma hora e meia, que civis e instalações civis fossem poupadas pelos russos, assim como as estradas ao sul de Kiev, usadas como rota de fuga pela população. Antes da conversa com Emmanuel Macron, o tirano havia chamado o Ocidente de “império da mentira”, ao comentar as sanções pesadas que atingiram a economia da Rússia e às quais prometeu responder. O presidente da França saiu bastante preocupado da conversa. Tanto que, pouco depois, divulgou uma mensagem aos militares franceses, sobre as “fricções” com os russos: “Neste contexto de fortes tensões, a França sabe que pode contar mais uma vez com as suas forças armadas. As suas virtudes de disciplina intelectual e de força moral nutrem, hoje como ontem, uma posição de controle que honra o nosso país. Eu sei que posso contar com vocês para que mostrem, na execução das suas missões, grande vigilância e autocontenção no caso de possíveis interferências”. A Europa ouve os tambores da guerra.

O Ocidente não é um império da mentira, embora nele se minta muito, porque mentiras têm pernas curtas em sociedades livres, ao contrário do que ocorre em sociedades como a russa. A guerra na Ucrânia conseguiu unir o Ocidente em torno da verdade representada pelo mandachuva em Moscou — a de ser uma ameaça aos valores mínimos da civilização.Se Vladimir Putin queria nos dividir, o que ocorreu foi o contrário”, disse o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian. Pela primeira vez na sua história, a União Europeia financiará armas a um país. E a Alemanha voltou a engajar-se militarmente, com o envio de milhares de armamentos à Ucrânia — que só não está em guerra na realidade paralela dos asnos.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
2

Jaguar se rende à cultura woke e é alvo de críticas

Visualizar notícia
3

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
4

Kassab projeta Tarcísio presidente até 2030

Visualizar notícia
5

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
6

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
7

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
8

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
9

Crusoé: Pablo Marçal governador de São Paulo?

Visualizar notícia
10

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

ameaça nuclear Emmanuel Macron guerra na Ucrânia Jean-Yves Le Drian negociações entre Rússia e Ucrânia Ocidente OTAN Rússia Ucrânia Vladimir Putin
< Notícia Anterior

Terminais da rede de satélites de Elon Musk chegam à Ucrânia

28.02.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

AO VIVO: Putin já perdeu - Papo Antagonista com Claudio Dantas e Diogo Mainardi

28.02.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Janja se junta a Felipe Neto para xingar Elon Musk: passou dos limites?

Janja se junta a Felipe Neto para xingar Elon Musk: passou dos limites?

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Janjapalooza: um escárnio que revela a desconexão da esquerda com as mulheres

Janjapalooza: um escárnio que revela a desconexão da esquerda com as mulheres

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.