A mesopotâmica promoção pessoal de Arthur Lira e seu pupilo JHC
O presidente da Câmara e o prefeito de Maceió usaram o maior carnaval do país para colar sua imagem à da cidade onde têm sua base política
Maceió, capital de Alagoas, patrocinou o desfile da Beija-Flor, no Rio de Janeiro. Pagou 8 milhões de reais.
Pode até ser que a cidade venha a se beneficiar com turismo e negócios, como querem as autoridades que defendem o “investimento”.
Neste momento, só podemos ter certeza que duas pessoas lucraram: o prefeito de Maceió João Henrique Caldas, o JHC, e seu padrinho político Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados (na foto, à direita e à esquerda da bandeira, respectivamente).
Eles se esbaldaram na comissão de frente da escola de samba. Colaram suas imagens à cidade onde têm sua base política. Para eles, a compra do enredo da Beija-Flor foi só alegria.
Qual folia?
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) pediu informações à prefeitura de Maceió para entender melhor essa história. Fez muito bem, é claro. Os cidadãos da capital nordestina merecem saber exatamente qual tipo de folia os seus impostos financiaram.
Será uma vergonha se o Ministério Público de Alagoas e a Procuradoria Geral da República não agirem da mesma maneira em relação a Lira e JHC. Se o ziriguidum de ambos não foi promoção pessoal com dinheiro público, difícil imaginar o que seria.
Passar com o carro alegórico por cima da impessoalidade na administração pública pode acarretar processo por improbidade administrativa. Também pode ter consequências eleitorais. JHC deve buscar a reeleição neste ano.
É de enlouquecer
O Brasil é mesmo de enlouquecer. O jornal O Estado de Minas publicou nesta segunda-feira, 12, uma reportagem mostrando que os tribunais regionais eleitorais “acumulam decisões sobre representações contra políticos suspeitos de tentar se aproveitar da festa para promoção pessoal”.
O texto cita o exemplo de um município amazonense onde as escolas de samba, depois de receberem patrocínio da prefeitura, homenagearam o prefeito com citação no samba-enredo, em um caso, e com foto no uniforme dos foliões, no outro.
Um segundo exemplo foi tirado de Pernambuco: o mascote de um bloco tradicional, numa cidade do interior, foi enfeitado com a inicial do prefeito em tamanho gigante, além do número de seu partido.
O carnaval carioca, no entanto, pertence a uma outra liga. Comparada com essas pilantrices, a compra do enredo da Beija Flor pela política alagoana precisa ser descrita com o linguajar de Milton Cunha, o comentarista de carnaval da Rede Globo.
Foi uma coisa “mesopotâmica, cleopátrica, nabucodonosoriana!”
Tire a sua alegria do caminho
PS: A Beija-Flor é responsável por um dos enredos mais ácidos e memoráveis da história do carnaval carioca, “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”. Sem deixar de ser empolgante, o desfile de 1989 falou de miséria e mendigos. É triste ver uma escola com esse currículo se render à politicagem do bloco de Lira.
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