A China não pode se vingar dos brasileiros por causa de Bolsonaro
A política exterior do PT era um desastre, com a sua opção preferencial por tiranos latino-americanas que também chafurdavam na roubalheira. Não esqueçamos que até a Bolívia de Evo Morales nacionalizou refinarias da Petrobras, dando um pé no traseiro de Lula, como retratado na capa da Veja, quando eu trabalhava lá (na verdade, a ideia inicial era mostrar a marca de uma mão de óleo no derrière do então presidente brasileiro). Jair Bolsonaro, que tinha a chance de reverter esse quadro, transformou o desastre em catástrofe...
A política exterior do PT era um desastre, com a sua opção preferencial por tiranos latino-americanas que também chafurdavam na roubalheira. Não esqueçamos que até a Bolívia de Evo Morales nacionalizou refinarias da Petrobras, dando um pé no traseiro de Lula, como retratado na capa da Veja, quando eu trabalhava lá (na verdade, a ideia inicial era mostrar a marca de uma mão de óleo no derrière do então presidente brasileiro). Jair Bolsonaro, que tinha a chance de reverter esse quadro, transformou o desastre em catástrofe.
Não só perdemos o respeito dos vizinhos de subcontinente, em função de bate-bocas desnecessários, e ainda ingressamos no clube dos vilões internacionais, por causa do aumento das queimadas na Amazônia e da atitude do sociopata Jair Bolsonaro na pandemia, como macaqueamos Donald Trump na sua agenda contra a China, sem dispor nem sequer em sonho de ínfima parte do poder americano. O arremedo do trumpismo contou com o apoio entusiasmado desse pateta chamado Ernesto Araújo, o pior chanceler da história nacional, que hoje gagueja na CPI da Covid. Sob os auspícios dele no Itamaraty, abandonamos o pragmatismo em relação a nações bem mais fortes sob qualquer ponto de vista e das quais dependemos em grau exacerbado, dada a nossa condição de grande exportador de commodities, o que aumenta a nossa vulnerabilidade.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil e fonte exclusiva dos insumos para a fabricação das duas únicas vacinas que produzimos e com as quais podemos contar em larga escala: a Coronovac e o imunizante da AstraZeneca. Jair Bolsonaro e seus símios jamais poderiam atacar Pequim da forma como fizeram e continuam a fazer. Burrice, irresponsabilidade e politicagem de quinta categoria se misturam nesse comportamento. Está tudo errado, sempre esteve desde o início.
Dito isso, não podemos perder o senso de realidade na análise jornalística: a China é uma ditadura sanguinária, que promove neste momento uma limpeza étnica da minoria muçulmana uigur e mostra os seus tentáculos em Hong Kong, com a repressão violenta a manifestantes que defendem a manutenção da democracia no outrora território britânico, como previsto pelo tratado que transferiu a cidade para a China. O regime totalitário restringe duramente a liberdade de expressão e informação. A sua responsabilidade na disseminação do vírus da Covid é evidente: Pequim perseguiu os médicos que deram o primeiro alerta sobre a nova doença e demorou a avisar o mundo sobre o que estava ocorrendo em Wuhan — no caso de agentes patogênicos agressivos, cada dia conta um século. Ainda hoje, as autoridades chinesas impõem obstáculos às investigações sobre o que ocorreu lá. Em 14 de maio último, dezoito cientistas renomados publicaram um carta na revista Science, na qual admitem seriamente a hipótese de que o vírus da Covid pode ter escapado do laboratório de virologia de Wuhan e afirmam que, diante dessa possibilidade, é preciso investigar a fundo a origem do vírus, o que não foi feito até agora.
Os Estados Unidos de Joe Biden continuam às turras com a China, moderando apenas o linguajar. A Europa, idem. Os atritos entre os governos ocidentais e representantes diplomáticos chineses são constantes, principalmente porque, desde o início da pandemia, Pequim espalha desinformação sobre a origem da Covid — chegou a inventar que a doença havia sido levada do Ocidente para a China — e também a respeito das vacinas que concorrem com as produzidas por ela, uma vez que os imunizantes passaram a ser peça-chave no tabuleiro geopolítico.
O governo brasileiro não pode nem deve brigar com a China, mas nós, jornalistas, não somos governo. Precisamos criticar Jair Bolsonaro pelas lambanças contínuas, sem deixar de lado o fato de estarmos lidando com um regime totalitário que deixa de enviar insumos vitais para a produção de vacinas, a fim de vingar-se de um governo estrangeiro que lhe é antipático e boquirroto. A China está errada ao fazer isso, porque a sua relação é com o Brasil, e são brasileiros que estão em perigo. A cada atraso no envio de insumos, aumenta o número de cidadãos que morrerão ou terão complicações sérias por não terem tido vacina a tempo. É irrazoável supor que o boicote não seja uma resposta violenta e desproporcional aos desaforos de Jair Bolsonaro. Os brasileiros não podem pagar com a sua própria vida a Pequim porque o nosso presidente é um cretino — presidente que vai passar, visto que somos uma democracia, ao contrário do regime chinês.
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