Venezuela desconvida até Alberto Fernández de observar eleição
Publicação de Fernández ocorre no mesmo dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou que não enviará observadores à Venezuela
O ex-presidente da Argentina Alberto Fernández (foto) informou nesta quarta-feira, 24 de julho, que foi desconvidado pelo regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, para ser observador nas eleições de domingo, 27.
“Ontem, o governo nacional venezuelano me transmitiu o desejo de que eu não viaje e desista de cumprir a tarefa que me foi confiada pelo Conselho Nacional Eleitoral. A razão que me foi apresentada é que, na opinião daquele governo, as declarações públicas por mim feitas perante um meio de comunicação social nacional causaram desconforto e levantaram dúvidas sobre a minha imparcialidade. Eles entenderam que a coincidência com o que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, havia expressado um dia antes, gerou uma espécie de desestabilização do processo eleitoral”, escreveu Fernández no X, em referência ao “susto” de Lula com a declaração de Maduro sobre “banho de sangue” em caso de derrota nas urnas.
“Devo esclarecer que não entendo tal desconforto. Eu apenas disse que numa democracia, quando o povo vota, “quem ganha, ganha e quem perde, perde” e se o partido no poder fosse eventualmente derrotado, teria de aceitar o veredicto popular. A oposição deverá fazer o mesmo caso o resultado seja adverso”, acrescentou.
A publicação de Fernández ocorre no mesmo dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do Brasil, anunciou que não enviará observadores à Venezuela, após Maduro mentir ao afirmar que o sistema eleitoral brasileiro não seria auditável.
Antes de mirar no ex-presidente argentino, o regime chavista já havia desconvidado, em maio, observadores da União Europeia.
Lula se assustou só agora?
O presidente Lula concedeu entrevista nesta segunda-feira, 22, a correspondentes internacionais. Questionado sobre a farsa eleitoral promovida por Nicolás Maduro na Venezuela, marcada para se consumar no domingo, 28, o petista disse que ficou “assustado com a declaração do Maduro dizendo que, se ele perder as eleições, vai ter um banho de sangue”.
“Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora”, disse Lula, como reporta a Reuters, ignorando que o conceito de ganhar ou perder uma eleição já foi pervertido na Venezuela desde os governos de Hugo Chávez, que perverteu o quanto pôde as instituições do país para se perpetuar no poder.
“Eu já falei para o Maduro duas vezes, e o Maduro sabe, que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo o mundo”, completou Lula, que, pode alguma razão, ainda acredita que a farsa eleitoral marcada para domingo pode convencer alguém.
Lula ainda disse o seguinte: “Se o Maduro quiser contribuir para resolver a volta do crescimento na Venezuela, a volta das pessoas que saíram da Venezuela e estabelecer um Estado de crescimento econômico, ele tem que respeitar o processo democrático”.
“Assédio e a perseguição“
Os governos de Argentina, Costa Rica, Guatemala, Paraguai e Uruguai publicaram na sexta-feira, 19, uma declaração conjunta contra o avanço da perseguição do regime de Maduro à oposição, para exigir “a cessação imediata do assédio, perseguição e repressão contra ativistas políticos e sociais da oposição, bem como a libertação de todos os presos políticos“.
A manifestação ocorreu após a líder da opositora María Corina Machado — que foi barrada de se candidatar e teve diversos integrantes de campanha detidos e sequestrados — anunciar que sofreu um atentado em Barquisimeto, estado de Lara, após dois dos veículos em que sua equipe viajava terem sido vandalizados.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) divulgou nota para condenar “o ataque relatado por María Corina Machado, no qual foram cortados os cabos dos freios de seu veículo, ocorrido em 18 de julho em Barquisimeto, estado de Lara”.
Enquanto isso, Celso Amorim, assessor de Lula para assuntos internacionais, relativizava o que Maduro disse quando mencionou “banho de sangue” e “guerra civil” ao falar sobre a possibilidade de perder a farsa eleitoral, traduzindo as ameaças como “luta de classes”.
Lula finge agora preocupação com a democracia venezuelana. Tarde demais.
Leia mais: Celso Amorim toma invertidas, nos EUA, ao relativizar ditaduras
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