USAID financiou ONGs sem controle, permitindo repasses ao Talibã
Auditoria aponta falha do governo americano na supervisão de bilhões de dólares enviados ao Afeganistão

O Inspetor-Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão (SIGAR, na sigla em inglês) revelou que o Departamento de Estado e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) não monitorou adequadamente os bilhões de dólares enviados a ONGs que operam no Afeganistão.
A falta de fiscalização permitiu que fundos fossem desviados para o Talibã.
Criado pelo Congresso dos EUA em 2008, o SIGAR é um órgão independente responsável por auditar e investigar o uso de recursos americanos destinados à reconstrução do Afeganistão.
Desde a retirada das tropas dos EUA e a tomada do país pelo Talibã, em agosto de 2021, o governo americano continuou a financiar projetos humanitários na região, utilizando Organizações Públicas Internacionais (PIOs) para a distribuição dos recursos.
Segundo o relatório, não foram implementados mecanismos de supervisão eficazes para garantir que o dinheiro não caísse nas mãos do Talibã.
A USAID, principal agência americana de ajuda externa, firmou contratos com ONGs sem incluir cláusulas obrigatórias que permitissem visitas de inspeção por representantes dos EUA.
Em alguns casos, a fiscalização foi terceirizada para uma empresa contratada para monitoramento remoto, mas o relatório aponta que, apesar de ter recebido pagamentos, essa empresa não realizou visitas aos locais financiados.
A falta de supervisão ficou evidente em projetos como um programa de água e saneamento operado pela UNICEF, financiado pela USAID. O órgão americano não realizou inspeções, e quando o SIGAR visitou o local, encontrou diversas irregularidades que a UNICEF não havia reportado.
O Escritório de Remoção de Armas do Departamento de Estado também financiou operações para retirada de minas terrestres sem exigir supervisão direta.
Um dos grupos beneficiados, o Serviço de Ação contra Minas da ONU, suspendeu atividades devido à interferência do Talibã, mas omitiu essa informação dos EUA por meses.
Apenas um dos cinco departamentos do governo americano analisados exigia, em contrato, que as ONGs permitissem inspeções.
Além disso, a USAID não exigia relatórios formais sobre “desvios” de recursos, termo que inclui fraude, corrupção e interferência de grupos como o Talibã.
Em 2024, o regime islâmico pressionou ONGs financiadas pelos EUA a fornecer listas de beneficiários e interferiu na seleção dos atendidos, forçando ainda a suspensão de programas de apoio a mulheres.
O secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou que a maior parte da USAID foi encerrada e que seus programas restantes serão transferidos para o Departamento de Estado.
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