Tornados do furacão Milton deixam rastro de destruição na Flórida
A chegada do furacão Milton trouxe uma quantidade inédita de tornados à Flórida, com características atípicas em comparação a outros
A passagem do furacão Milton pela Flórida deixou marcas não só por sua força, mas também pela quantidade de tornados que ocorreram em suas primeiras horas.
Tornados e furacões estão frequentemente conectados, principalmente em regiões como o Golfo do México, onde cerca de 80% dos furacões que atingem a área geram esses ciclones menores, de curta duração, mas altamente destrutivos. No entanto, o que chamou a atenção em Milton foi o número excepcional de tornados, a duração prolongada e o tamanho superior ao comum.
Mais de 100 alertas de tornados foram emitidos, e pelo menos 45 foram confirmados pelo Serviço de Meteorologia dos Estados Unidos. Segundo especialistas, a extensão do furacão e a força de suas nuvens externas resultaram na criação de tantos tornados, muitos dos quais com tamanho considerável.
Diferente de outros furacões que geram tornados pequenos e breves, Milton foi responsável por ciclones de magnitude semelhante aos que atingem as Grandes Planícies dos EUA, considerados os mais perigosos do mundo. William Gallus, da Universidade Estadual de Iowa, destaca que a combinação entre a enorme massa de nuvens e a energia nas bandas externas de Milton impulsionou a formação desses tornados.
Tornados gerados por furacões
Furacões e tornados, embora ambos ciclones, diferem em suas escalas e origens. Os tornados gerados por furacões tendem a ocorrer nas partes mais externas, onde as nuvens, conhecidas como supercélulas, têm mais propensão a formar esses ciclones.
Ernani Nascimento, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e especialista em tempo severo, explicou ao O Globo que as bandas externas do furacão, ao atingir o continente, encontram um nível de atrito muito maior que no mar, gerando variações intensas no vento conforme a altura, criando condições ideais para a formação de tornados.
“Tornados são comuns nas bordas dos furacões, mas o tamanho de Milton permitiu que esses tornados fossem maiores e mais duradouros do que o habitual“, destacou Nascimento.
Enquanto furacões têm dimensões continentais e podem durar dias, os tornados são geralmente mais rápidos e limitados em tamanho. O maior tornado registrado tinha cerca de 4 quilômetros de diâmetro, enquanto furacões podem alcançar centenas de quilômetros de extensão. Além disso, furacões são visíveis até mesmo do espaço, ao passo que os tornados são detectados a olho nu, dada sua menor escala.
O impacto do aquecimento global na formação de tornados
Um estudo conduzido por Gallus e sua equipe mostrou que o aumento nas temperaturas globais pode tornar as condições ainda mais favoráveis para a formação de tornados associados a furacões.
A simulação de furacões passados, como Katrina (2005), Rita, Ivan (2004) e Harvey (2017), em cenários de aquecimento projetados para o futuro, revelou um aumento significativo no número de tornados. O furacão Katrina, por exemplo, teria um aumento de quase 300% na formação de tornados se ocorresse no cenário climático previsto para meados do século XXI.
Milton, com suas bandas externas carregadas de energia, trouxe à tona a preocupação sobre o futuro da meteorologia severa.
O furacão, que perdeu força ao atravessar a terra, pode não causar mais tantos tornados em sua partida, mas deixou um alerta claro sobre o potencial destrutivo desses eventos em um planeta em aquecimento.
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