Sudão: Massacre ignorado e o silêncio da mídia internacional
Mais de 150 mil mortos e 11 milhões de deslocados revelam a brutalidade do conflito sudanês, invisível no radar global
Desde abril de 2023, o Sudão vive um conflito devastador, marcado por massacres, torturas, fome e deslocamentos forçados.
A guerra entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e as Forças de Suporte Rápido (RSF) já resultou em mais de 150 mil mortos e 11 milhões de deslocados. Apesar da magnitude da crise humanitária, o conflito permanece relegado às margens da atenção global, ofuscado por disputas em lugares como a Ucrânia e o Oriente Médio.
O conflito teve início após a ruptura entre os generais Abdel Fattah al-Burhan e Mohamed Hamdan Dagalo, líderes das SAF e RSF, respectivamente, ambos apoiados por potências regionais. Financiados por países como Emirados Árabes Unidos, Egito e Rússia, esses grupos vêm devastando o país com bombardeios, saques e campanhas de limpeza étnica, especialmente na região de Darfur.
Nas cidades de Cartum e Omdurman, relatos de abusos são abundantes. Mohamed Abdul Salam, um trabalhador de 37 anos conhecido como “Bundug”, morreu dez dias após ser libertado de uma prisão da RSF, onde foi torturado e submetido à fome extrema. Sua história é apenas um dos exemplos do sofrimento enfrentado pelos civis. Entre os mortos estão crianças como Mohammed Abdullah, de nove anos, morto por estilhaços enquanto brincava de bicicleta.
Embora organizações como Médicos Sem Fronteiras estejam presentes, a maioria dos hospitais e centros médicos foi destruída, e os médicos denunciam a omissão de entidades internacionais como a Cruz Vermelha. A devastação vai além dos números: cerca de 26 milhões de pessoas enfrentam níveis críticos de fome, com previsões de que o Sudão possa enfrentar uma fome de proporções históricas.
Enquanto isso, a resposta internacional tem sido tímida. Embora os Estados Unidos tenham destinado US$ 2 bilhões em ajuda humanitária, o apelo de US$ 2,7 bilhões das Nações Unidas para 2024 recebeu apenas 57% do financiamento necessário.
A falta de atenção ao conflito no Sudão levanta questões sobre os critérios que movem a cobertura da mídia internacional. Como destacou um analista, crises humanitárias de grande escala, quando não envolvem interesses estratégicos diretos ou protagonistas de relevância global, tendem a cair no esquecimento.
O sofrimento no Sudão expõe, mais uma vez, a seletividade da comunidade internacional e da imprensa, enquanto o país se afunda em uma catástrofe humanitária sem precedentes.
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