“Sou liberal. Esta é uma filosofia de vida, para além da política”
Em entrevista à revista Veja, Maria Corina Machado falou sobre o contexto repressivo da Venezuela e chamou o presidente Lula à responsabilidade.
Maria Corina Machado, 56 anos, engenheira industrial especializada em políticas públicas pela Universidade Yale, nos Estados Unidos e ex-deputada é a maior liderança da oposição ao regime ditatorial de Nicolás Maduro.
Em entrevista à revista Veja, publicada em 15 de março, Corina falou sobre o contexto político na Venezuela e chamou o presidente Lula à responsabilidade.
Sobre o papel do presidente do Brasil no necessário processo de transição democrática ela afirmou:
“A interlocução dele com Maduro poderia até ajudar, servindo de alavanca para o processo democrático. Só que, para tal, Lula precisa assumir uma postura firme a favor das liberdades individuais e parar de dar aval a um autocrata.” […]
O Brasil tem responsabilidade sobre a estabilidade na região. Um tremor na Venezuela transborda as fronteiras”
Ao ser informada de que Lula teria dito que as acusações contra o regime atual da Venezuela eram apenas narrativas, Corina replicou:
“Lula sabe muito bem que o que vivemos aqui vai muito além de uma narrativa. O regime de Maduro é o mais corrupto e violador dos direitos humanos da história. As pessoas sentem na pele. Há destruição econômica, institucional e social. Salários não passam de 1 dólar por mês, e as crianças têm sorte quando conseguem ir à escola mais de duas vezes na semana. Não à toa, a população debandou: 7 milhões já se foram em busca de um futuro”.
Inelegibilidade
Sobre sua inelegibilidade Maria Corina respondeu:
“Se eu for mesmo banida da disputa, estará explícito que essas eleições não serão livres. O próprio Parlamento europeu, em coro com outros observadores internacionais, enfatizou isso.” […]
“O problema não é meu nome. Se colocarem outro no lugar, o regime dará um jeito de impedir a candidatura. E assim será até que surja um postulante fraco, que Maduro derrotará. Me proibir de concorrer foi uma decisão arbitrária, possível apenas porque o governo controla todos os órgãos públicos.” […]
“Todas as siglas democráticas concordaram com um processo em que o povo legitimou uma única liderança. […] 92% de mais de 2 milhões de eleitores me escolheram para representá-los.” […]
“Vejo a construção de um movimento mais amplo na sociedade, que extrapola qualquer ideologia”
Repressão e extorsão social
Sobre o atual recrudescimento da repressão, que tem sido chamada de fúria bolivariana, Corina comentou:
“Em dois meses, quatro membros de minha equipe foram sequestrados pelo serviço secreto. Não sabemos seu paradeiro. Nossa sede também foi vandalizada. Me fazem todo tipo de ameaça ao rodar o país. Usam a polícia e o exército para bloquear estradas para que não possa me locomover. O nome disso é perseguição, com todas as letras” […]
“Maduro desenvolveu ao longo dos anos uma engrenagem de extorsão social, como quando diz às pessoas que, caso não sejam fiéis ao regime, não receberão seu benefício mensal ou perderão o emprego.” […]
Estados Unidos
Sobre as sanções impostas pelos Estados Unidos, Maria Corina Machado disse que era a favor, mas acrescentou
“A situação até agora, em que a repressão se aprofunda, é uma demonstração de que a iniciativa americana não está surtindo o efeito desejado.”
“Washington estabeleceu um prazo para Maduro liberar minha candidatura e a do restante da oposição. Se não acontecer, as sanções estarão de volta.”
“Viramos porta de entrada para a influência da Rússia e do Irã na América Latina”.
O futuro de Maduro
Para a líder da oposição, o regime de Maduro é “capaz de qualquer loucura”. E Maduro um dia será julgado:
“Se eleita, vou garantir um julgamento justo a Maduro e seus comparsas — desde gente envolvida em crimes contra a humanidade àqueles que acabaram sendo vítimas do sistema.”
Política e maternidade
Ao ser questionada sobre sua admiração por Margaret Thatcher e por incluiu em sua agenda a privatização de estatais, Maria Corina declarou:
“Sou liberal. Esta é uma filosofia de vida, para além da política. […] Quero restaurar o Estado democrático de direito para atrair investimentos e fazer com que o princípio da propriedade privada volte a vigorar”.
Maternidade e política
Questionada se, com três filhos no exterior, nunca tinha pensado em deixar o seu país, Maria Corina Machado respondeu:
“Tirei meus filhos daqui anos atrás, porque comecei a receber ameaças de morte. Sinto culpa por não poder estar presente na vida deles. É como se estivesse falhando como mãe. Mas sair daqui não dá. Num momento como este, não posso deixar para trás a luta pela democracia”.
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