O escritor Salman Rushdie, que sobreviveu a um ataque a faca em um evento literário no estado de Nova York, nos Estados Unidos, em agosto de 2022, afirmou que um possível Estado palestino governado pelo Hamas seria “semelhante ao Talibã”, um estado satélite do Irã.

Em entrevista ao tabloide alemão Bild, publicada no domingo, 19, o autor questionou se os movimentos progressistas da esquerda ocidental realmente gostariam de criar um Estado aliado a Teerã ao lado de Israel.

“Qualquer ser humano neste momento tem de ficar angustiado com o que se passa em Gaza por causa da quantidade de mortes inocentes. Gostaria só que alguns dos manifestantes mencionassem o Hamas. E o Hamas é uma organização terrorista. É muito estranho que os jovens progressistas da política estudantil apoiem um grupo terrorista fascista, porque falam numa Palestina livre. Ora, eu defendo um Estado palestino livre por quase toda a minha vida, desde os anos 1980, provavelmente. Neste momento, se houvesse um Estado palestino, seria gerido pelo Hamas.

E isso faria ele semelhante ao Talibã. E seria um Estado satélite do Irã. É isso que os movimentos progressistas da esquerda ocidental querem criar? Ter outro Talibã, outro Estado do gênero do aiatolá no Oriente Médio. Logo ao lado de Israel?

Por isso, sinto que não há muito pensamento profundo acontecendo. Há uma reação emocional às mortes em Gaza, e isso é natural. Mas quando desliza para o antissemitismo, e, por várias vezes, ao apoio real ao Hamas. Então é muito problemático.”

O atentado a Rushdie

Salman Rushdie foi esfaqueado por um radical islâmico no pescoço e no abdômen durante uma palestra nos Estados Unidos, em 2022.

Em entrevista ao programa “60 Minutes”, da CBS, o autor falou sobre o ataque sofrido pela primeira vez a uma emissora de televisão.

“Confesso que às vezes imaginei meu assassino surgindo em algum fórum público ou outro e vindo atrás de mim exatamente dessa maneira. Então, meu primeiro pensamento quando vi essa forma assassina correndo em minha direção foi: ‘Então é você'”, afirmou.

O ataque fez com que o autor perdesse a visão de um olho e ficasse no hospital por seis semanas.

“Um dos cirurgiões que salvou minha vida me disse: ‘Você teve muito azar e depois teve muita sorte’. Eu disse: ‘Qual é a parte da sorte?’ e ele disse ‘Bem, a parte da sorte é que o homem que atacou você não tinha ideia de como matar um homem com uma faca’”, acrescentou.

O escritor sofria ameaças de morte desde os anos 1980, quando a publicação do livro “Os Versos Satânicos”, relato ficcional da vida do profeta Maomé, incomodou o líder supremo do Irã, aiatolá Ruhollah Khomeini, que emitiu em 1989 uma fatwa, ou sentença de morte, oferecendo US$ 2,5 milhões pela cabeça de Rushdie. A fatwa foi revogada 25 anos atrás.