Sabotagens e ataques: a guerra híbrida da Rússia contra a Europa
Os governos ocidentais suspeitam que Moscou esteja por trás de ataques incendiários na Polônia, Reino Unido, República Tcheca, Alemanha, Lituânia e Letônia
Um atentado a bomba que quase resultou em uma tragédia aérea na União Europeia foi evitado graças a um atraso em um voo de conexão, que impediu que o dispositivo explosivo fosse detonado no ar. Em vez disso, a bomba incendiária explodiu no solo, no aeroporto de Leipzig, na Alemanha, incendiando um contêiner de carga da DHL.
Segundo autoridades de inteligência ocidentais, o incidente ocorrido em julho teria sido um teste realizado por agentes russos, que planejavam colocar bombas semelhantes em voos com destino aos Estados Unidos.
Thomas Haldenwang, ex-presidente da agência federal de inteligência interna da Alemanha, destacou as ações agressivas dos serviços de inteligência russos, que variam desde a influência em discussões políticas até ataques cibernéticos em infraestrutura crítica e atos de sabotagem em grande escala.
Guerra híbrida
A Rússia está engajada em uma guerra híbrida contra países europeus, utilizando campanhas de desinformação, invasões cibernéticas e interferências eleitorais para desestabilizar sociedades europeias e reduzir o apoio militar à Ucrânia.
Na semana passada, a Alemanha relatou que cabos submarinos de telecomunicações no Mar Báltico foram cortados por sabotagem.
As tensões aumentaram com a presença do navio-espião russo Yantar no Mar da Irlanda, patrulhando áreas críticas de energia e internet. Além disso, incidentes violentos têm ocorrido, como a explosão de outra bomba similar em um armazém perto de Birmingham, Reino Unido.
O aumento das atividades russas também foi destacado por Nils Andreas Stensnes, chefe do serviço de inteligência estrangeira da Noruega, que espera um aumento nos esforços russos para sabotar infraestruturas de petróleo e gás.
Os governos ocidentais suspeitam que Moscou esteja por trás de ataques incendiários na Polônia, Reino Unido, República Tcheca, Alemanha, Lituânia e Letônia.
Autoridades alemãs e americanas alegam ter frustrado um plano russo para assassinar Armin Papperger, CEO da fabricante alemã Rheinmetall.
Europa passiva
Apesar das tentativas de alguns governos europeus para alertar sobre a situação, a resposta coletiva da União Europeia e da Otan tem sido moderada.
O primeiro-ministro dinamarquês Mette Frederiksen afirmou que a Europa está sendo excessivamente passiva diante das agressões diárias da Rússia.
Especialistas indicam que o receio de uma escalada militar desencoraja confrontos diretos com Moscou.
A abordagem cautelosa é refletida na terminologia usada para descrever os ataques como “híbridos”, evitando classificá-los como terrorismo, o que demandaria respostas mais contundentes.
Artigo 5 da Otan
Embora o Kremlin busque evitar disparar uma resposta coletiva sob o Artigo 5 da Otan — que estabelece defesa mútua — suas ações parecem cuidadosamente calibradas para testar os limites dessa disposição sem provocar um confronto direto.
Contudo, discussões dentro da Otan sobre uma resposta coletiva aos ataques híbridos estão em andamento.
O problema reside na definição vaga do que constitui guerra híbrida e na dificuldade de atribuição direta dos ataques à Rússia.
Fortalecimento de defesas
Em resposta às ameaças crescentes, alguns países europeus estão fortalecendo suas defesas internas e intensificando sanções contra indivíduos e entidades envolvidos nas ações russas.
Essas medidas não têm tido impacto significativo até agora e especialistas defendem uma resposta mais unida e robusta para contrabalançar as táticas russas.
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