Rússia leva mentira sobre armas biológicas ucranianas à ONU
Uma teoria conspiratória sobre a existência de laboratórios de armas químicas financiados pelos Estados Unidos na Ucrânia começou a se disseminar há alguns dias. Nesta quinta-feira (10), os ministros russos da Defesa e das Relações Exteriores já haviam mencionado o assunto. Nesta sexta-feira (11), a fake news ganhou sua formulação mais detalhada numa fala do representante permanente da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, Vasily Nebenzya [...]
Uma teoria conspiratória sobre a existência de laboratórios de armas químicas financiados pelos Estados Unidos na Ucrânia começou a se disseminar há alguns dias. Nesta quinta-feira (10), os ministros russos da Defesa e das Relações Exteriores já haviam mencionado o assunto. Nesta sexta-feira (11), a fake news ganhou sua formulação mais detalhada numa fala do representante permanente da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, Vasily Nebenzya (foto).
O diplomata russo afirmou que o Ministério da Defesa dos Estados Unidos patrocinou estudos com aves, para criar uma bactéria que ocasionava uma taxa de mortalidade de 50% entre humanos. Outra experiência envolveria morcegos. E haveria ainda estudos sobre a propagação da leptospirose e de novas variantes mortíferas do coronavírus. “O laboratório central da Ucrânia concentrava a pesquisa em Odessa, mas também havia testes em cidades como Kiev e Kherson”, disse Nebenzya. “Agora, eles estão querendo destruir todas as provas.”
O discurso foi imediatamente rebatido pela representante americana no Conselho de Segurança, a embaixadora Linda Thomas-Greenfield. Segundo ela, os laboratórios a que o russo se referiu fazem pesquisa sobre doenças infeciosas de maneira transparente, e a ajuda financeira dos Estados Unidos jamais foi um segredo.
“Jamais teve qualquer coisa a ver com armas biológicas”, disse Thomas-Greenfield. “É a Rússia que tem um programa de armas biológicas em desacordo com a legislação internacional e, mais ainda, uma história bem documentada de uso desses produtos, por exemplo, na Síria. As intenções da Rússia nos parecem claras, ao trazer esse assunto para o Conselho de Segurança. Eles se preparam para utilizar armas químicas e biológicas contra a população ucraniana, e por isso criam uma cortina de fumaça com essas alegações falsas. A Rússia quer encobrir suas atrocidades.”
Países como França e Inglaterra apoiaram as declarações da diplomata americana e disseram que a Rússia nada mais fazia do que ampliar o conjunto de mentiras que vem espalhando a respeito de suas ações na Ucrânia e de seus efeitos sobre a população do país invadido.
Outro aspecto perturbador da história é que ela vem se propagando dentro dos próprios Estados Unidos. Como grande parte das teorias da conspiração, ela surgiu inicialmente nos fóruns online do grupo QAnon. Mas ganhou repercussão rapidamente em programas da extrema direita, como o “War Room” de Steve Bannon (um dos gurus da família Bolsonaro), e em textos de ativistas de esquerda como Glenn Greenwald (um dos gurus de quem acredita em teorias da conspiração sobre a Lava Jato).
Na última terça-feira, durante uma reunião do Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, o republicano ultraconservador Marco Rubio já havia perguntado à subsecretária de Estado Victoria Nuland se a Ucrânia estocava armas biológicas.
Um dia depois, o Departamento de Estado americano divulgou uma nota oficial sobre o assunto. “O Kremlin está espalhando intencionalmente mentiras deslavadas sobre atividades conjuntas dos Estados Unidos e da Ucrânia com armas biológicas, no próprio território ucraniano. Também vemos representantes da República Popular da China ecoarem essas teorias da conspiração. A desinformação russa é completo nonsense“, diz o trecho inicial da nota.
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