Repressão de Nicolás Maduro contra estudantes chega à Netflix
O filme Simón conta a vida de um jovem que participou dos protestos de rua de 2017 contra a ditadura venezuelana e enfrenta o dilema por pedir asilo
O filme Simón, que conta a vida de um jovem que participou nos protestos de rua de 2017 contra a ditadura venezuelana e enfrenta o dilema de pedir asilo estreou nessa sexta-feira, 1º de março, na plataforma Netflix.
O longa de estreia do diretor venezuelano Diego Vicentini foi indicado ao Prêmio Goya de melhor filme ibero-americano e obteve excelentes críticas.
A trama denuncia a forte repressão e as violações dos direitos humanos que sofreram aqueles que levantaram a voz e foram subjugados pelo regime de Nicolás Maduro.
Após sua estreia mundial no Florida Film Festival, em Orlando, em abril, o nome do filme consolidou-se na mente do público nacional e internacional. Com lançamento anunciado em dez cidades do continente, o recorde de bilheteria não demorou a chegar.
Filmado em Miami, durante a pandemia, em 2021, junto com uma equipe técnica e artística majoritariamente venezuelana, Simón conta a história de um líder estudantil venezuelano, que foge para Miami em busca de asilo político.
Lá ele conhece Melissa, uma jovem estudante de direito americana que decide ajudá-lo em seu caso. No entanto, pedir asilo significa reviver os duros acontecimentos que o fizeram deixar a Venezuela. Simón terá que enfrentar a sua própria raiva, a sua culpa e a sua tristeza. O tempo está se esgotando e Simón deve decidir se esquece para sempre seu passado e começa uma nova vida ou retorna ao seu país e retoma a luta.
A culpa de não estar lá
O filme estreou com a surpreendente notícia de não ter sido censurado. “Na Venezuela, é notícia quando um filme não é censurado”, ironiza o diretor Diego Vicentini
Na opinião de alguns venezuelanos, o regime de Maduro não censurou o filme porque serviria como um alerta sobre o que acontece a quem desafia a ditadura. Seria conveniente sua exposição a fim de desanimar a insurgência.
O filme emocionou tanto os espectadores do exterior quanto os do país. À época do lançamento do filme em Caracas, no calor das salas de cinema, sem ar-condicionado devido às frequentes flutuações de energia no país, grande parte da plateia chorou em silêncio e aplaudiu durante os créditos.
“A dureza está em ver em cada cidade e em cada país a ferida coletiva que temos e como cada um conta sua história e se conecta com Simón. Dói ver como a dor que nos causaram é universal. E também tem sido um espaço terapêutico conjunto. Ter 300 pessoas, 600, mil em uma sala de cinema sentindo mais ou menos a mesma coisa nos ajuda a cicatrizar”, comenta o diretor.
“Onde quer que eu vá, encontro pessoas que foram detidas, torturadas ou que conhecem alguém que viveu isso”, afirmou ainda Diego Vicentini.
Em 2009, Vicentini emigrou com sua família para os Estados Unidos. Ele tinha apenas 15 anos quando saiu e viveu os quase quatro meses de protestos de 2017 através das redes sociais enquanto estudava cinema em Los Angeles. “Quando acordava, via no telefone que outro cara havia sido assassinado e depois tinha que ir para a aula”. Sua tese de graduação foi o curta que antecedeu Simón.
“O embrião emocional do filme é essa culpa de não estar lá. Uma tentativa de contribuir. Por isso o filme lida com esse equilíbrio entre culpa e perdão, o poder de nos perdoarmos por não termos alcançado o que queríamos”.
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