Polícia da internet da China passa de blogueiros a seus seguidores
Nos últimos meses, seguidores de blogueiros influentes foram interrogados pela polícia chinesa
No final do ano passado, um estudante universitário na China, usou uma rede privada virtual para pular a grande censura da internet da China e baixar a plataforma de mídia social Discord.Da noite para o dia, ele entrou em uma comunidade na qual milhares de membros com visões diversas debatiam ideias políticas e encenavam eleições simuladas.
As pessoas podiam entrar no chat para discutir ideias como democracia, anarquismo e comunismo. “Afinal, é difícil para nós fazer política na realidade, então temos que fazer isso em um chat em grupo”, disse Yang Minghao, um vlogger popular, em um vídeo no YouTube.
O interesse do estudante pela comunidade foi despertado enquanto assistia a um dos vídeos de Yang online. Yang, que faz vlogs sob o apelido MHYYY, estava falando sobre o chat no Discord, que, como o YouTube, é bloqueado na China.
Em julho, o referido estudante e vários outros membros do grupo Discord, em cidades a milhares de quilômetros de distância, foram chamados para interrogatório pela polícia.
Ele diz que foi detido por 24 horas e interrogado sobre seu relacionamento com Yang, seu uso de uma VPN e comentários que ele fez no Discord. Ele foi liberado sem acusação após 24 horas, mas ele — e outros seguidores de Yang — continuam preocupados com o bem-estar do vlogger, que não posta online desde o final de julho.
O incidente é apenas um sinal da crescente severidade do regime de censura da China, sob o qual até mesmo seguidores privados de contas desfavoráveis podem ter problemas.
“Não acho que já tenha visto seguidores de influenciadores sendo questionados dessa forma no passado”, disse Maya Wang, diretora associada da China na Human Rights Watch.
Regulamentação e censura
Ser punido por comentários feitos online é comum na China, onde a internet é rigidamente regulamentada. Além de um firewall digital que bloqueia a maioria dos usuários da internet de acessar sites estrangeiros como Google, Facebook e WhatsApp, pessoas que publicam conteúdo sobre tópicos considerados sensíveis ou críticos ao governo frequentemente são banidas de sites, ou acontece coisa pior.
No ano passado, um homem chamado Ning Bin foi condenado a mais de dois anos de prisão por postar “comentários inapropriados” e “informações falsas” no X e no Pincong, um fórum de língua chinesa.
A rede de vigilância online
Em fevereiro, Li Ying, que administra uma conta X popular em chinês, postou um “aviso urgente” dizendo que seus seguidores na China estavam sendo chamados para “tomar chá” com a polícia, um eufemismo para interrogatórios. Ele pediu às pessoas que deixassem de segui-lo e tomassem cuidado para garantir que suas contas X não revelassem suas informações pessoais.
Li, que mora na Itália, administra uma conta chamada “O professor Li não é seu professor”, que publica um fluxo de notícias não filtradas sobre protestos e repressão na China, do tipo que nunca seria publicado na mídia doméstica da China.
“A polícia começou a ligar para todos os usuários que haviam se registrado com números de celular chineses e pediu que deixassem de me seguir”, disse Li. Pessoas que moram no exterior tiveram seus parentes na China contatados pela polícia, disse Li.
Dois outros blogueiros chineses populares, incluindo Wang Zhi’an, um jornalista chinês baseado no Japão, também disseram que seus seguidores foram interrogados pela polícia este ano.
“Parte disso tem a ver com o aprofundamento da repressão — a polícia deixou de assediar ativistas e pessoas ‘lá fora’ ativas em espaços físicos para assediar aqueles online”, diz Wang.
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