Pandemia interrompeu vacinação para milhões de crianças no mundo, mostra estudo
A pandemia de Covid pode ter resultado na maior e mais ampla interrupção de programas de vacinação na história, colocando milhões de crianças - em países ricos e pobres - em risco de contrair sarampo, difteria, tétano e coqueluche. A conclusão é de estudo que será publicado nesta quinta (15) na revista científica The Lancet...
A pandemia de Covid pode ter resultado na maior e mais ampla interrupção de programas de vacinação na história, colocando milhões de crianças – em países ricos e pobres – em risco de contrair sarampo, difteria, tétano e coqueluche. A conclusão é de estudo que será publicado nesta quinta (15) na revista científica The Lancet.
O estudo é liderado por pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME) da Universidade de Washington, e foi feito em parceria com uma equipe da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), entre outros cientistas.
Os pesquisadores estimam que as cobertura globais da vacina contra o sarampo e a da vacina tríplice contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3) podem ter caído abaixo dos 80% em 2020, um declínio de mais de 7% em ambos os casos.
No total, o estudo estima que 8,5 milhões de crianças no mundo perderam uma dose da vacina tríplice bacteriana (DTP3) e 8,9 milhões deixaram de tomar uma dose da vacina contra o sarampo em 2020, em comparação com o que seria esperado se não houvesse pandemia. Em números absolutos, foram 30 milhões de crianças que deixaram de tomar a DTP3 e 27,2 milhões que deixaram de tomar a vacina contra o sarampo.
A pesquisa foi feita levando em conta a aplicação da 3ª dose da DTP3 e da 1ª dose da vacina contra o sarampo.
O declínio na cobertura vacinal pode causar futuros surtos de sarampo e mortes por essa doença, segundo os pesquisadores. Pelos dados da OMS, o sarampo matou 207 mil pessoas em 2019, um aumento de quase 50% em relação a a 2016. A pandemia pode agravar ainda mais um cenário que já vinha piorando.
A pior queda foi em abril de 2020, no começo da pandemia. Nesse mês, cerca de 4,4 milhões de crianças no mundo todo deixaram de tomar a vacina contra o sarampo, e 4,6 milhões deixaram de tomar a tríplice bacteriana.
O estudo inclui um apêndice com dados separados por país. Os pesquisadores estimam que, com a pandemia, a cobertura vacinal no Brasil contra o sarampo caiu para 92,8%, sendo que ela seria de 99,9% sem a pandemia. Já a cobertura da vacina tríplice bacteriana teria caído para 80,3%, contra 83,6% que o país teria sem a interrupção.
Procurado por O Antagonista, o Ministério da Saúde admitiu que a cobertura da vacina tríplice viral – que inclui proteção contra o vírus do sarampo – caiu em 2020.
“Em 2019, a cobertura vacinal com a primeira dose da vacina Tríplice Viral foi de 93%, e 81,5% para a segunda dose. Em 2020, a cobertura atingiu 79,4% com a primeira dose e 62,7% com a segunda dose”, informou a pasta. “Vale ressaltar que os dados de 2020 são preliminares”.
O ministério não forneceu dados atualizados sobre a cobertura da vacina tríplice bacteriana (contra tétano, difteria e coqueluche).
A pasta acrescentou que “vem reforçando constantemente as ações e estratégias necessárias para ampliação da cobertura vacinal e para reverter as consequências provocadas pela pandemia da Covid-19. É importante reforçar que as salas de vacinação são seguras e todas são orientadas a seguir as medidas para evitar a transmissão da Covid-19. O Ministério realiza frequentemente reuniões com as equipes técnicas de vacinação estaduais, para monitorar a busca ativa da população local para completar a carteira de vacinação, além de ações de multivacinação, campanhas nacionais como a de sarampo e imunização de rotina”.
No estudo que será publicado na madrugada desta quinta (15), os pesquisadores escreveram: “Durante a próxima fase da pandemia, na qual um dos principais focos será aumentar a escala da vacinação contra COVID-19 e conter novas variantes, devem ser sustentados esforços de expansão e recuperação de imunizações de rotina – do contrário o frágil progresso do mundo pode facilmente dar lugar a surtos de doenças preveníveis em 2021 e além”.
O estudo foi patrocinado pela Fundação Bill & Melinda Gates.
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