“Os políticos mentem sobre a Síria”
Tom McTague, jornalista britânico, expõe como a queda de Assad em 2024 reacendeu debates sobre a responsabilidade do Ocidente e suas falhas geopolíticas
O jornalista britânico Tom McTague publicou no site UnHerd, nesta segunda, 16, o artigo “Os políticos mentem sobre a Síria”. Ele critica a forma como políticos ocidentais reinterpretam os eventos de 2013, quando o Parlamento britânico rejeitou ataques aéreos contra o regime de Bashar al-Assad, para justificar suas posições atuais diante da queda do ditador sírio neste ano.
Para McTague, as narrativas que culpam ou absolvem o Ocidente refletem “atos de fé infalsificáveis” que ignoram as complexidades do conflito e a realidade das consequências dessas decisões
Segundo McTague, líderes como Wes Streeting, secretário de Saúde do Reino Unido, e George Osborne, ex-ministro das Finanças, argumentam que uma intervenção mais rápida em 2013 teria evitado anos de sofrimento na Síria.
“Se o Ocidente tivesse agido mais rápido, Assad já teria caído”, declarou Streeting, ao sugerir que a omissão abriu espaço para a intervenção russa, que manteve Assad no poder por mais de uma década. Osborne foi além e atribuiu ao fracasso da intervenção ocidental a crise migratória que impactou a Europa e até mesmo o aumento da imigração ilegal para o Reino Unido.
McTague considera essas análises simplistas, lembrando que as intervenções na Líbia, no Iraque e no Afeganistão também criaram instabilidade e ondas de refugiados. “A crise atual envolve migrantes do Irã, Afeganistão e Albânia — nenhum deles é exemplo de falta de intervenção ocidental”, escreve.
O artigo questiona a sinceridade de figuras como Ed Miliband, líder trabalhista em 2013, que votou contra os bombardeios propostos pelo então premiê David Cameron. Miliband alegou que a intervenção seria apenas um “ataque único” para punir o uso de armas químicas.
McTague observa que Cameron contradisse isso ao afirmar que o objetivo era maior, como enfraquecer Assad e possibilitar uma transição política. Para McTague, “nenhum dos dois foi sincero sobre suas motivações, ambos guiados por cálculos políticos e não pela realidade do conflito”.
O texto também destaca a ausência de uma reflexão crítica sobre os erros do Ocidente. Hugh Powell, ex-conselheiro de segurança britânico, sugeriu que uma intervenção em 2013 teria instalado um governo de coalisão na Síria.
McTague rebate, argumentando que essa visão ignora os fracassos anteriores do Ocidente em construir governos estáveis no Oriente Médio e ressalta que líderes continuam presos à ideia ilusória de que podem moldar o destino de países em conflito. Ele encerra com um alerta: para aprender com o passado, o Ocidente precisa abandonar as “declarações de fé” e abraçar análises mais realistas, confrontando as limitações de sua influência.
Quem é Tom McTague
Tom McTague é um jornalista britânico especializado em política e relações internacionais. Colaborador do site UnHerd e autor do livro Betting the House: The Inside Story of the 2017 Election, McTague é conhecido por suas análises críticas sobre os erros estratégicos do Ocidente em cenários globais.
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