O legado de desgraça da Revolução Bolivariana na Venezuela
Chávez, um antigo oficial militar, liderou um golpe fracassado em 1992, ganhou a presidência em 1998 e consolidou rapidamente o poder quando assumiu o cargo, reescrevendo a constituição e assumindo o controle dos tribunais e das forças armadas
Apesar de todos os memoriais bajuladores ao falecido presidente populista, Hugo Chávez, nem mesmo em Sabaneta, local de nascimento de Hugo Chávez, os venezuelanos sustentam a chamada Revolução Bolivariana – que combinou uma economia liderada pelo Estado com o nacionalismo.
“O chavismo pode ter nascido aqui, mas também morrerá aqui, se é que já não morreu”, disse Vicmary Jaimes, uma mãe de 27 anos que vende brinquedos na praça central. Ela depende da ajuda alimentar do governo, mas diz que os mantimentos “não servem para um cão” e chegam podres ou infestados de vermes.
As dificuldades da Venezuela têm sido agudas. O país tem sido assolado pelo desastre econômico, pela repressão política e pelo consequente êxodo de milhões de pessoas.
A reeleição de Maduro em 2018 foi considerada uma farsa pelo Ocidente. Agora, em 28 de julho, aniversário de Chávez (data escolhida por Nicolás Maduro) os venezuelanos votarão mais uma vez em uma eleição presidencial já marcada por sabotagens e perseguições.
Mesmo com todo a sua máquina de opressão, trapaça e mentira, pesquisas mostram que Maduro está perdendo por, no mínimo, 20% das intenções de voto.
O principal candidato da oposição, o diplomata reformado Edmundo González, está no lugar de María Corina Machado, uma ex-deputada impetuosa que em janeiro foi proibida de concorrer depois de vencer estrondosamente as primárias em outubro.
Chavismo e decadência
Chávez, um antigo oficial militar, liderou um golpe fracassado em 1992, ganhou a presidência em 1998 e consolidou rapidamente o poder quando assumiu o cargo, reescrevendo a constituição e assumindo o controle dos tribunais e das forças armadas.
Os elevados preços do petróleo subscreveram pesados gastos sociais, enquanto os chavistas receberam cargos na PDVSA, a grande petrolífera estatal, e noutras empresas estatizadas.
Ele expandiu a influência sobre a mídia de radiodifusão, relegando as publicações independentes a espaços online, na época ainda sem o grande alcance de hoje.
Na cidade onde Cháves nasceu, Sabaneta, Há uma praça ancorada por uma estátua do líder esquerdista falecido com o punho erguido – e com uma dedicatória do tirano russo Vladimir Putin.
Outrora considerada o reduto do chavismo, hoje enfrenta problemas típicos de grande parte da Venezuela.
Os postos de gasolina próximos muitas vezes ficam vazios e são comuns cortes de energia e água que duram horas. Lixo, não recolhido há três meses, acumula-se nas ruas.
“Eu era chavista em minha essência, mas Maduro, é hora de ir”, disse Manuel enquanto tomava um gole de run. “Nunca votei na minha vida, mas votarei em González para acabar com esta miséria”, disse Luis, um trabalhador agrícola de 33 anos. Nenhum dos dois deu o sobrenome, com medo de represálias.
Exemplos do legado de projetos abandonados de Chávez situam-se nos arredores da cidade, onde uma fazenda de gado foi expropriada para dar lugar a uma instalação de engenharia genética bovina que funcionou brevemente, mas agora está fechada. Perto dali, um vasto complexo de usinas de açúcar fica vazio, com máquinas enferrujadas à beira da estrada.
As eleições do domingo, 28 de julho
Poucos observadores esperam que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) reconheça uma vitória da oposição no domingo.
Rafael Simón Jiménez, ex-legislador e amigo de infância de Chávez que já fez parte da CNE, disse que um resultado possível seria Maduro reivindicar a vitória em meio a alegações de fraude, deixando a disputa para ser resolvida nos meses anteriores ao início do mandato, em 10 de janeiro.
“Se há uma palavra que resume este processo eleitoral é ‘incerteza’”, disse Jiménez.
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