Meta não quer proteger adolescentes, denuncia ex-engenheiro
Ex-consultor e ex-engenheiro da Meta afirmou que a empresa de mídia social de Mark Zuckerberg já possui a infraestrutura para proteger os adolescentes de conteúdos nocivos, mas simplesmente não aplica.
O jornal britânico, The Guardian, publicou nessa quarta-feira, 24 de janeiro, uma denúncia feita por um ex-engenheiro sênior da Meta. O ex-consultor afirmou que a empresa de mídia social de Mark Zuckerberg já possui a infraestrutura para proteger os adolescentes de conteúdos nocivos, mas simplesmente não o aplica.
Arturo Béjar, ex-engenheiro sênior e ex-consultor da empresa proprietária do Instagram e do Facebook, disse que se a empresa poderia, se quisesse, ter criado uma experiência mais segura para os usuários jovens. De acordo com uma pesquisa realizada por Béjar sobre usuários do Instagram, 8,4% dos jovens de 13 a 15 anos viram alguém se mutilando ou ameaçando se mutilar na última semana.
“Se tivessem aprendido as lições de Molly Russell, criariam um produto seguro para crianças de 13 a 15 anos”, disse Béjar ao jornal The Guardian, que trouxe a denúncia com exclusividade.
Molly Russell era uma menina de 14 anos de Harrow, noroeste de Londres, que se suicidou em 2017 depois de ver conteúdos nocivos relacionados com suicídio, automutilação, depressão e ansiedade no Instagram. Em 2022, o inquérito sobre a sua morte concluiu que Molly “morreu devido a um ato de automutilação realizado enquanto sofria de depressão e dos efeitos negativos do conteúdo online”.
Béjar disse que Zuckerberg tem as ferramentas à sua disposição para tornar o Instagram, em particular, mais seguro para os adolescentes, mas a empresa optou por não fazer essas alterações.
Segundo o engenheiro, “eles precisam de um executivo-chefe que acorde amanhã de manhã e diga: ‘Esse tipo de conteúdo não é permitido na plataforma’, porque eles já têm a infraestrutura e as ferramentas para que esse tipo de conteúdo seja impossível de se encontrar”.
Levaria três meses para que o Meta realizasse uma repressão eficiente ao conteúdo de automutilação, acrescentou Béjar. “Eles têm todo o maquinário necessário para fazer isso. O que é necessário é a vontade e a decisão política”.
Importunação sexual, bullying e automutilação
A pesquisa de Béjar no Instagram e as tentativas de fazer com que a empresa aja a respeito aparecem em uma ação movida contra a Meta por Raúl Torrez, o procurador-geral do Novo México, que alega que a Meta não protege as crianças contra abuso sexual, abordagens predatórias e tráfico de seres humanos.
As responsabilidades de Béjar como diretor de engenharia incluíam ferramentas de segurança infantil e ajudar as crianças a lidar com conteúdos nocivos, como material de bullying. Tendo deixado a empresa como engenheiro sênior em 2015, ele retornou como consultor em 2019 por um período de dois anos, onde conduziu uma pesquisa que mostrava que uma em cada oito crianças de 13 a 15 anos no Instagram havia recebido investidas sexuais indesejadas, enquanto uma em cada cinco foram vítimas de bullying na plataforma e 8% visualizaram conteúdo de automutilação.
Béjar continua monitorando a plataforma Instagram e afirma que conteúdo prejudicial – incluindo material de automutilação.
A versão da Meta
Um porta-voz da Meta declarou: “Todos os dias, inúmeras pessoas dentro e fora da Meta trabalham para ajudar a manter os jovens seguros online. Trabalhando com pais e especialistas, introduzimos mais de 30 ferramentas e recursos para apoiar os adolescentes e as suas famílias a terem experiências online seguras e positivas. Todo esse trabalho continua.”
A Meta aponta para inúmeras iniciativas de segurança, incluindo a configuração automática de contas de menores de 16 anos para o modo privado quando eles entram no Instagram, restringindo os adultos de enviar mensagens privadas a adolescentes que não os seguem e permitindo que os usuários do Instagram denunciem intimidação, assédio e violência sexual.
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